O Estresse Pós-traumático: Consequência da tragédia do vôo JJ3054

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Perplexidade, dor, sofrimento, indignação. Incrédulos, assistimos a esta tragédia bárbara incinerando vidas e enlutando 200 famílias.

E tentamos através de alguma forma, registrar nossa solidariedade. Muitas vezes escrevendo, na tentativa de racionalizar os acontecimentos e sentimentos.

Pensamos no Stress pós –traumático, fenômeno psicológico descoberto nos Estados Unidos no século passado em estudos com soldados na Guerra do Vietnã, sobreviventes que apresentavam ansiedade, pânico, pesadelos. Estudos recentes, por ocasião da tragédia das Torres Gêmeas em NovaYork,   levaram os pesquisadores a reencontrar sintomas semelhantes em bombeiros que trabalhavam no resgate das vítimas e nos familiares. A partir desta tragédia, cerca de 100.000 nova-iorquinos começaram a sofrer de stress pós-traumático. Isto foi visto em um Congresso Internacional, onde nos foi mostrado que bombeiros, policiais, familiares e amigos das vítimas, nos EUA, são acompanhados por profissionais em Stress, para evitar seqüelas do trauma psicológico, causadas pelo peso emocional da tarefa ou envolvimento psicológico, onde busca-se oferecer apoio imediato, enquanto pessoas envolvidas ainda não criaram defesas em suas emoções.

No Brasil, o assunto ainda é novo mas já existem metodologias: a prevenção, a conscientização, pesquisas e intervenção neste fenômeno do stress.

E agora a tragédia com o vôo 3054 aqui, perto de nós. O nosso cotidiano está inseguro; o mundo contemporâneo caracterizado pelo materialismo, nos coloca frente à catástrofes que a informação midiática nos traz. Percebe-se que há um mal estar generalizado, uma sensação de angustiante vulnerabilidade gerando um clima de tensão.

E os familiares e amigos das vítimas? E o vazio cruel de suas ausências?

Uma situação traumática, poderá afetar pessoas que tem uma estrutura psicológica frágil para lidar enfrentar a situação e mesmo as mais centradas, podem sofrer um processo de descompensação psicológica. Existe um limiar de tolerância em relação ao que elas vivenciam e quando este limite é ultrapassado poderão desenvolver o estresse pós-traumático, ou seja, o reviver do trauma, ocorrendo sintomas como pesadelos, terrores noturnos; momentos de flash back, (a sensação de estar revivendo o evento traumático). Reações depressivas podem ocorrer e também a evitação de situações que relembram a tragédia.

A rede de apoio social surge como importantíssima nestes momentos, através de manifestação de solidariedade frente à extrema dor.

Esta leitura psicológica poderá nos ajudar nas relações interpessoais mas resolver o caos aéreo torna-se impossível para a população, a qual quer uma solução: punir os responsáveis, pelo direito a vida e a dignidade.

Parece que há um embotamento da inteligência, um caos sem solução. Será que todos somos sobreviventes? Até quando teremos que suportar esta situação instalada em nosso país?




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Texto publicado no Jornal NH do dia 27/07/2002.

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