O Caso do Sr. X - Síndrome de Burnout

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Quando pesquisamos sobre o stress no trabalho, encontramos preocupantes alterações de comportamento, em consequência do esgotamento na atividade laboral: o Burnout. A partir de 1970, vem sendo estudado intensivamente nos Estados Unidos, Europa e agora, no Brasil. O termo Burnout ( do idioma inglês), significa queimar-se, esgotar-se pelo trabalho em resposta ao stress crônico.

Para entendermos esta Síndrome ( pois trata-se de um conjunto de sintomas) , tomaremos como exemplo o caso ilustrativo e fictício do Sr.X:  um funcionário de 40 anos, com uma família feliz e estruturada. Trabalhava como Gerente de Vendas há 8 anos numa empresa, não faltava ao trabalho mas gradativamente, sentia-se péssimo. Sua eficiência caía dia a dia e a "chama" do idealismo, que o mantinha na "luta," se apagava lentamente; sentia sua dedicação resumida como anos de frustração  e falta de reconhecimento pelo sistema. Passou a demonstrar, então, cinismo  e frieza com os colegas de trabalho ( despersonalização, a principal característica do Burnout); sua instabilidade emocional e ceticismo aumentavam enquanto sua auto-estima diminuia. Mas não desistiu ao que percebia como injustiça por parte de empresa, em sua promoção e crescimento.Somente insistia em permanecer no cargo e continuar sua jornada laboral, esta agora sem significado. Somente cumpria as metas estabelecidas, despindo-se de qualquer vínculo emocional com as pessoas com as quais convivia no trabalho, despersonalizado.


Muitos srs. X, profissionais esgotados, encontramos em várias áreas; saúde, educação (docência), empresarial e outras, que proporcionam contato direto com pessoas.

E quais são as causas da Síndrome de Burnout?

Estão diretamente ligadas ligadas a baixos salários, longas jornadas de trabalho, demandas maiores as que podem efetivamente responder, tarefas  que não correspondem aos traços de sua personalidade, trazendo sofrimento e conseqüente prejuízo no atendimento aos clientes, aos relacionamentos interpessoais.Ou seja, deficiências ou ausência do olhar psicológico ou da gestão empresarial.

As pessoas que estão burningout, apresentam características comportamentais como a contrução de uma "couraça" impermeável às emoções e sentimentos; o convívio torna-se cada vez  mais difícil com os colegas, num sistema competitivo de divisão de trabalho e de pressões. As situações são inúmeras e para enumerá-las, necessitaríamos elencar diversas variáveis estressoras.  Manifestações psicossomáticas ( hipertensão, problemas relacionados à sexualidade-libido),elevação dos níveis de cortisol ( o hormônio do stress), poderão levar à diminuição das defesas do sistema imunológico, além de doenças nas coronárias, conforme pesquisas realizadas. O sofrimento se manifesta, pois jamais poderemos separar mente-corpo, o que já preconizavam os filósofos gregos e a ortodoxa e sempre verossímil  teoria freudiana. O esvaziamento existencial e a depressão, poderão levar o profissional a renunciar ao seu outrora ideal.

E qual a saída?

Sabemos das dificuldades, pois muitas vezes as causas são intrínsicas ao sistema de trabalho: conciliar família e trabalho é um desafio para gestores e profissionais do mundo empresarial, na medida em que os conflitos nessas áreas trazem consequências negativas para as empresas e os colaboradores;  a busca de equilibrio entre a vida pessoal e profissional é um desafio constante no ambiente de trabalho, assim como aprender a delegar e compartilhar tarefas, pedir ajuda quando necessário e ser criativo, tendo espaço para isso.

O que se observa na Psicologia do Trabalho, é que muitas vezes a qualidade do convívio, mais do que o tempo dedicado  às relações, deve ser considerada. A volta para a família, depois de um dia de trabalho, atualmente tem somente conotação de descanso e não de estreitamento das relações. O trabalho que deveria ser fonte de prazer e satisfação, poderá tornar-se origem de stress, dificultando o desenvolvimento de laços mais profundos. "Livrar-se" do trabalho é afastar-se de situações angustiantes e contrárias ao que deveria ser: de satisfação pessoal. Então sim,  aconteceria o verdadeiro sentido do trabalho: não somente ser  fonte patrimonial mas também de gosto e prazer pela atividade laboral.

Criação de vínculos e competência relacional
A prevenção surge, também, como  como uma das grandes e fundamentais aliadas no controle e gerenciamento do stress e Burnout. Através de mudanças no estilo e Qualidade de Vida além de programas internos nas empresas, fugir dos riscos e assim obter  gratificação com a alegria de viver e de trabalhar. Aumentando a auto-estima, a criação de vínculos e a competência relacional.

( Texto resumido de um capítulo de meu livro: "Estresse laboral e Síndrome de Burnout-Uma dualidade em estudo"-) 2003.

Paz e Amor: quem lembra de Woodstock?

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Freud, ao formular a Psicanálise, deixou em seu legado teórico, imortais conceitos e postulados, nos quais muitas vezes, procuramos subsídios para entender as vicissitudes da vida, as dificuldades encontradas em nosso trajeto.

Sigmund Freud
Entre eles, formulou a Teoria dos Instintos! Nos traz que temos a pulsão de vida, de auto conservação, regida por EROS,( da mitologia Grega, o deus do amor), e Thanatos (o deus da morte). Eros  se manifesta através de pessoas afáveis, generosas, apaziguadoras, produtivas e com características ligadas ao amor, à energia de vida constituindo assim sua personalidade; por sua vez, Thanatos move pessoas perversas, agressivas e violentas: a pulsão de morte faz parte inerente delas.

O mesmo podemos aplicar, se procurarmos entender as atrocidades das guerras, (quando se faz presente a pulsão de morte), destruindo as questões humanas de agrupamento e relacionamento, instaurando o caos, ceifando vidas, causando traumas psicológicos, destruindo esperanças.
No início deste milênio, já aconteceram guerras  perversas como foi a  dos Estados Unidos X Iraque e como são todas as guerras que massacram a humanidade. Em 2003, perplexos assistimos na mídia e muitas vezes incrédulos choramos, a  destruição  do berço da civilização, dos pilares da história da humanidade, o que tornou a guerra acima citada mais terrível e inaceitável, pois vimos o homem destruindo, justamente, o seu legado histórico mais importante: a Antiga Mesopotâmia, onde sítios arqueológicos, ruínas  de cidades bíblicas, relíquias de nossa cultura sendo bombardeadas impiedosamente. E as vidas destruídas? E suas histórias? Não há espaço para o amor; é Thanatos em ação!!

Pois, em  minha juventude, nos "anos dourados", ouvia falar num polêmico, distante e inacessível festival de música e artes, tendo como símbolo  o slogan " PAZ e AMOR". Este encontro de jovens hippyies era chamado de Woodstock. Contestado por muitos pela sua audácia e defendido por outros por sua vanguarda, é ainda considerado um dos maiores movimentos da música popular.           

Assistia no final dos anos 60 na televisão, a harmonia que os hyppies procuravam; via um retrato comportamental ousado e distante de qualquer norma que eu conhecia; nas atitudes deste movimento reconhecidamente pacífico, existia a  esperança num mundo melhor. Agora entendo que denunciava o terrível incômodo da atrocidade: guerras, conflitos, desamores. Era Eros em ação!!

A bandeira do pacifismo já foi empunhada com Woodstock, mas parece haver um "diálogo de surdos" Vimos muitos outros movimentos pela paz mas estes tornaram-se apenas pressionadores; a coletividade infelizmente não tem força, quem decide a guerra não ouve os apelos. Torna-se quase impossível conter a ira dos poderes narcísicos.

O mundo sempe clamou pela paz, na esperança da compreensão, amor e fraternidade. Voltando a Freud, o instinto de vida não se conforma com a barbárie das guerras: isto é inerente aos regidos pelo instinto de morte. E o pacifismo sempre desperta para uma questão social, tentando conter o furor devestador, mostrando que ainda não se esgotaram as alternativas civilizadas para a procura da paz.

E o que nós devemos fazer? Cultivar o nosso Eros, nosso instinto de vida através de atitudes altruístas e de reconciliação conosco mesmos: seria o primeiro passo para a paz. Muitas vezes, devemos pensar  que somos heróicos quando estamos sós; ir à luta, mesmo com o olhos embaçados pela tristeza e dar lugar a um sorriso franco e à alegria ao encontrar um ombro amigo; manifestar a paz no dia a dia, na família, no trabalho, enfim, nas relações humanas; assim estaremos fazendo a nossa parte, entendendo  que é nos pilares da família que está o berço dos valores contra qualquer "guerra".

"Vencer não é competir com o outro; é derrubar os seus inimigos internos; é a própria realização do ser"
As pessoas boas são regidas pelo instinto de vida. Por EROS, o deus do amor! Não tem " munição" para a discórdia, a ganância, o poder, o ódio.

Então assim, como John Lennon, podemos imaginar e sonhar um mundo em paz.!

Tecnose: estaremos nós dependentes do mundo virtual?

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Chegava ao final a década de 1960 e Stanley Kubrick lançava um clássico do cinema: " 2001- uma odisséia no espaço".  Naquele momento, ao assistirmos esta obra-prima, estávamos frente a uma realidade ficcional repleta de emoções, deixando o nosso espaço mental livre para voar e navegar: lembremos da cena do macaco arremessando o osso no espaço, dando mostras de como se pode dominar a natureza, numa performance de ataque e defesa, representando simbólica e metafóricamente a cultura e a tecnologia de conquista e evolução tecnológica. O monolito, com sua presença enigmática e forte, testando nossa capacidade de enfrentar o desconhecido, desafiando  inteligência e conhecimento; a nave espacial, dando idéia  de evolução tecnológica. E Hall? O computador? podemos pensar aqui numa máquina inteligente, assustadoramente assumindo o controle sobre  o homem.

E agora, nos primórdios do século 21, temos uma realidade não mais uma ficção. Constatamos que a relação homem-máquina se concretiza, muitas vezes como uma dependência que poderá se tornar patológica.

A globalização determina uma crescente dependência pelos computadores cada vez mais sofisticados, celulares de múltiplas possibilidades aplicativas e o homem assim, corre o risco de desprender-se de sua própria essência. A subjetividade, o gregarismo, a necessidade de con-viver com os outros, e sobretudo, despossuir-se de seu olhar somente, mas sim a troca com um outro olhar. Do ponto de vista psicanalítico, sabemos da importância do olhar. Desde cedo, a mãe reflete nesta troca a vinculação com seu bebê e isso será a verdade de si mesmo, a constituição enquanto sujeito. Os bebês que  tem mães que não os olham, não conseguirão olhar a si mesmos e aos outros.
O olhar de mãe e filho

A tecnologia não permite o olhar. As  imagens e a voz assumem o vínculo. A entrega profunda pode causar a perda da identidade, a perda dos vínculos interpessoais.

O mundo virtual pode ser muito bom, mas por possuir um nível superior de inteligência artificial , como dizem as pesquisas de especialistas, elimina a noção de tempo e pode nos distanciar do convívio. Além disso: quanta velocidade podemos tolerar? Quanta informação podemos armazenar?
Estamos frente agora com a  questão de testarmos nossa capacidade de sermos sábios: como não nos entregarmos de modo obsessivo e compulsivo ao mundo sedutor da internet, por exemplo?

Foi diagnosticado a Tecnose, pela Organizaçao Mundial da Saúde, como sendo um mal da modernidade, resultante da convivência compulsiva do homem com a tecnologia, o que pode levar à dependência dos produtos cibernéticos.

E o que fazer? Sabemos da necessidade de aceitar, nos beneficiar da tecnologia e exercitá-la, pois faz parte de nossas vidas; senão seremos seres obsoletos, invisíveis.Porém, temos que estabelecer fronteiras e limites saudáveis . Avaliar nossas vidas e sabermos usar os avanços.Não sermos escravos deles mas nos beneficiarmos com eles.Caso contrário, a Internet será fonte de stress pois não estaremos sabendo lidar com a tecnologia.

abajour já foi substituído pela Internet? Por muitas pessoas, já.

Então, precisamos re-pensar nossa Qualidade de Vida.  Assim talvez, estaremos seguindo o que preconizava Kubrick com seu monolito negro: o conhecimento que chega até nós de forma extremamente veloz, testando nossa capacidade de lidar com o desconhecido, evolução e mudanças.
A necessidade de outros olhares

 Aqui nossa inteligência emocional entra em ação, numa interface de realizar escolhas. Vamos exercitar nossa liberdade e a necessidade do outro?O convívio com outros olhares e com a natureza?











A Importância do turismo e lazer na Meia Idade-aspectos psicológicos

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Simone de Beauvoir, em seu livro " Na força da idade", contesta veementemente a colocação que afirma ter ouvido : "Para que viajar, ninguém sai nunca de si mesmo" e justifica dizendo que , quando ela viajava, não se tornava outra mas desaparecia. Interpreto que ela se referia ao fato de que os problemas seguem com a pessoa quando viaja, mas assumem outra conotação.

" Em Madrid, pela manhã, abri as janelas do meu quarto; vi, junto ao céu azul, torres soberbamente erguidas, passado, futuro, tudo se dissipou: havia apenas uma gloriosa presença: a minha. A daquelas fortificações era a mesma e desafiava o tempo.(...) um país permanecia virgem de qualquer olhar enquanto eu não o via  com meus próprios  olhos" . ( Simone de Beauvoir, Na força da Idade. São Paulo: Difusão européia do livro, 1961.)
Paris-Rive gauche do Sena - janeiro 2010


Sabemos que a Meia Idade, ou anos intermediários como alguns autores preferem denominar, é caracterizada como uma época de auto-avaliação ou crise da meia idade, ocorrendo ao redor dos 45 aos 60 anos.A  Síndrome do "Ninho Vazio" á característica desta fase, principalmente na vida das mulheres: os quartos da casa  agora vazios.Os filhos " bateram as asas", constituíram famílias ou viajaram para lugares distantes, recomeçando seu próprio ciclo; casaram-se , geraram filhos, conviveram e irão encaminhar-se  também para a etapa que  Lidz ( O ciclo vital, 1986), chama de L ´envoi : o partir, o envelhecimento, o término da vida; suas vidas estreitando-se; parentes e amigos morrem e os pensamentos e interesses voltam-se para o passado.

Estão repetindo o mesmo ciclo de seus pais? A transgeracionalidade expica a maneira de como as  pessoas
repetem os modelos, exemplos  de seus pais e de como irão encarar o futuro.

Este é o inevitável Ciclo Vital, que teoricamente todo o ser humano terá que ter capacidade de encontrar propósito e dignidade para trilhar e chegar à velhice, (próxima etapa do ciclo vital-Terceira Idade), refletindo configurações da personalidade estabelecida nos anos anteriores.

Add captionAcademie Nationale de Musique-Paris
A Síndrome do "ninho vazio" na Meia Idade, merece um enfoque especial. Poderá ocorrer depressão  da mãe  e muitas vezes no pai,depois que os filhos deixam o lar: interpretação e orientação  se fazem necessárias. Tanto os homens quanto as mulheres , com as funções maternas e paternas completadas, "lançam mão" muitas vezes inconscientemente, ao que Freud  chama de Sublimação: um mecanismo psíquico no qual as pessoas dirigem seus interesses e frutrações à atividades úteis e prazeirosas, tanto sociais como intelectuais, uma viagem, por exemplo. Nela, poderão  ampliar sua comunicação através de um novo círculo de amigos, com os mesmos interesses; poderão trocar impressões sobre suas novas experiências vivenciadas, tranferindo saudavelmente, então, o investimento emocional que dirigiam aos seu filhos para estas atividades, que certamente poderão lhes proporcionar uma meia idade satisfatória, plena, preenchendo o vazio existencial que surge nesta fase do ciclo vital.

A Meia Idade é caracterizada por uma consciência inquietante de que os anos de pico de vida estão passando. Agora, é olhar para onde suas vidas tem ido, porque são necessários novos padrões de vida; as pessoas são, agora, membros de uma geração mais velha e responsável. É como se tivessem passado agora,  para o desenlace de uma peça teatral, numa metáfora que lhes dão  insight sobre a maneira de como suas vidas estão sendo levadas. Então surgem os questionamentos: o que foi realizado?e o que os anos posteriores tem a oferecer? Tem-se a sensação muitas vezes amarga de que a vida escorrega pelos dedos, podendo muitas vezes, ocorrerem conflitos existenciais.

Mas , felizmente, a maioria das pessoas agora, está no mais alto de seu potencial. Passaram seu principal vigor físico mas usam suas cabeças efetivamente e aprenderam a conservar suas energias. Sabem o que funcionará e o que vai ser perda de tempo. Muitas poderão sentir que, com o desaparecimento da responsabilidade com os filhos,que agora por sua vez  são pais de seus próprios filhos, tem liberdade nova para enfocar suas próprias vidas e interesses.

As pessoas tem então,  alternativas de um viver saudável e feliz. Muitas ficarão felizes com seus netos.Ou,  através do turismo e outras formas importantes de lazer, percebem os benefícios que chegam com sua maturidade, desfrutando as oportunidades que se apresentam. Assim , fortalecerão sua auto estima e também seu aspecto cultural será acrescido de realizações intelectuais e de relacionamento humano.

" Nenhum aspecto parece caracterizar melhor a civilização do que sua estima e seu incentivo em relação às mais elevadas atividades mentais do homem-suas realizações intelectuais, científicas e artísticas-e o papel fundamental que atribui às idéias na vida moderna" (S.Freud, 1890, O mal-estar na civilização. S.P Imago,vol XXI,1961).

É importante salientar que o ser humano pode perceber que cada cidade, cada lugar, tem uma essência, uma alma e que a tarefa consiste em des-vendá-la. Certos lugares parecem despertar "amor à primeira vista", sendo os lugares introjetados na história de cada um. As viagens despertam o gosto pela liberdade, sendo que a bagagem cultural que se adquire, nos torna ainda mais únicos em função de nossa interpretação do que foi conhecido.

Somos seres gregários, ou seja, nascemos e crescemos vinculados a um grupo social, iniciando a trajetória em nossa família. Nosso instinto também  é social. Existe uma mente coletiva: seja quem  forem os indivíduos que compõem um grupo,semelhantes ou não que sejam seu modo de vida, suas ocupações , seu caráter ou sua inteligência, isso os coloca na posse de uma espécie de mente coletiva  que os faz sentir, pensar, agir de maneira diferente daquela pela qual cada indivíduo tomado isoladamente, agiria se estivesse sozinho. É através das trocas de impressões vivenciadas, que as pessoas muitas vezes percebem com mais clareza a beleza de um quadro, de uma paisagem, as apreciações do folclore, as crenças populares de um país visitado.

Enfim, o lazer surge cada vez mais como fonte de interação entre as pessoas, situação essa muito importante na Meia Idade. Diz respeito àquele tempo que dispomos para fazer qualquer coisa que nos agrada, até mesmo não fazer nada.

Isso seria a recompensa pelos anos anteriores de dedicação, trabalho e investimento emocional direcionados aos filhos e família. Agora, novos padrões de vida são reorientados, buscando alternativas de usufruir dos benefícios que chegam para as pessoas com a maturidade.



Texto escrito em 2001, como psicóloga colaboradora de um livro sobre Turismo .







Não somos invisíveis

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     “O Brasil está na moda". Evoco esta afirmação que ouvi, alguns    alguns anos, de um palestrante e me fez  pensar nas possibilidades do resgate de nossa identidade cultural  e auto estima.  Entendi  que nunca houve um “salto” tão grande em nosso país quanto ao período das últimas três décadas.
           
             Isto me fez  lembrar o fato de que há 20 anos atrás, ao me apresentar como sendo brasileira no exterior, lá  perguntavam: “ Onde fica o Brasil?”  Indignação e perplexidade; longe da  Zona de conforto, foi  o que senti.Neste início de século, porém, já se pode  ouvir  nos países da Europa: “O Brasil é lindo; as cataratas do Iguaçu são mais belas que o Niagara Falls” e outros comentários positivos em relação ao crescimento econômico e cultural. E isto é motivo de orgulho: a evocação de nosso locus torna-se tangível e faz sentir que somos reconhecidos como parte da diversidade que forma este mundo globalizado.

 
Dole-cidade medieval onde nasceu Pasteur
Em janeiro de 2010, viajei ao Marrocos em companhia de amigos brasileiros de minha juventude e que constituíram família na França, o que “enriqueceu” muito minha viagem; os momentos foram de feliz reencontro, pois vivenciei o seu cotidiano, compartilhei instantes alegres com os filhos e netos, li os seus jornais, assisti aos seus programas preferidos na TV, a  culinária, enfim, o seu viver. Convivência que só é possível quando existe uma antiga e verdadeira amizade. “Une ancienne amitié”, ( uma antiga amizade) como meus amigos me apresentavam aos vizinhos e amigos. E foi então, neste tour pelo norte da África, que conheci um casal francês que mora em Dole, linda cidade medieval  no noroeste da França , na região dos Alpes Franceses, onde nasceu Pasteur, um dos maiores expoentes da biologia do século 19.


Chamonix Mont-Blanc
Estes amigos virão ao Brasil me fazer uma visita e conhecer nosso país que consideram como algo importante. Os visitei quando fiz uma viagem de trem em janeiro deste ano rumo à Chamonix-Mont Blanc, com uma escala nesta pequena cidade que fica no trajeto, na base dos Alpes; sua acolhida gentil e solícita me encantou ao ponto de voltar atrás na minha impressão de que os franceses são prepotentes. Gostaram de serem meus amigos mas percebi  também, que o fato de terem agora uma amiga brasileira, era importante para eles. O importante também era conhecer o Brasil!

Amigos franceses de Dole
E então constatei: no exterior não somos mais invisíveis. Somos admirados e o olhar e a leitura que fazem do Brasil é outra. De respeito e reciprocidade, para minha alegria. Neste olhar senti que existe simpatia e até ( pode ser exagero meu), uma certa reverência para com esta brasileira que teve uma experiência anterior diferente na América do Norte, há décadas atrás:uma falta de reconhecimento do nosso valor cultural.
           Isto pode nos deixar mais otimistas,  integrados no processo de globalização; sabemos que temos problemas, o discurso não pode ser determinista porém sem problemas não existem soluções. Crise existe, mas muitas vezes faz crescer.  Repensar atitudes  e ações, para não chegarmos ao caos: órfãos e vazios de espiritualidade. Assim estaremos fazendo a nossa parte.

                  Percebo que existe uma  dialética, que se apresenta  como sendo o imperialismo de um lado (  a globalização e a revolução tecnológica ) e a multidão, o povo como o grande capital do século 21, que já entendeu a necessidade de sua inserção nas redes sociais  e questões ligadas à tecnologia, junto à sua riqueza de manifestações culturais e movimentos para mudanças políticas e econômicas. Isto faz pensar a necessidade de refletir sobre a identidade cultural, pois o conhecimento liberta; estaríamos ainda escravizados? A leitura informa e transporta o conhecimento que é o nosso único bem inviolável. À passos largos caminhamos, tentamos reverter o quadro de que, segundo dados do Ministério da Cultura, 60% dos brasileiros não tem acesso aos livros. E isto preocupa,  pois é na cultura que encontramos subsídios que permitem alcançar metas e nos coloca na percepção e inserção no mundo.
           
                   Precisamos, então, da diversidade, pois é nas trocas das diferentes manifestações culturais que se exerce a democracia e a cidadania; o resgate de nossa identidade está alicerçado no conhecimento assim como nossa personalidade tem seu alicerce na infância.
         
                    Neste planeta de seis bilhões de pessoas, também as vicissitudes  constituem a nossa história; por isso temos que estar  mais juntos, mais solidários, mais “pessoas”,  pois estamos inseridos num mundo pragmático e  capitalista, caso contrário, estaríamos  obsoletos e economicamente inviáveis. E neste viés, a nossa práxis faz-se necessária: não sermos meros espectadores mas sim, sujeitos da transformação e da solidariedade, do respeito a vida , esperança de amor nos corações.
                
                     O fundamental é que nossa cultura merece atenção e sem preocupação com ideologias, podemos pensar no que já foi dito há tempos atrás: “O melhor do Brasil é o brasileiro”. Slogan? Xenofobia? Ufanismo? Não sei. A verdade é que vem se instalando um grande otimismo em nosso país, um potencial subjetivo e a certeza de que a sociedade é sábia. Os slogans mudam, são dinâmicos e denunciam uma ideologia.

                     E agora, com a Copa do Mundo em 2014, anunciado pela FIFA surgiu o slogan: “Juntos num só ritmo”. Seja qual for a agência de publicidade responsável por esta criação, conseguiu passar a idéia da importância da união, do conjunto, do clima festivo do brasileiro, que somente nós conseguimos sentir e interpretar. As torcidas se unirão num ritmo festivo, colorido, exclusivamente nosso. Utopia? Pode ser, mas o importante é nunca deixar de sonhar . Temos uma posição privilegiada e reconhecida no exterior, no cenário global ; afinal, seremos anfitriões para o planeta , além de sabermos que o  futebol  aproxima diversidades, unindo pessoas de todas as idades e classes sociais; a cultura brasileira tem neste esporte ícones inesquecíveis, retratando o nosso potencial.

                   Então desde já, entremos neste ritmo, felizes. A felicidade tem na cultura o seu colo de mãe. Cultura gera felicidade.  Seremos muitas vezes convidados a nos unir num só ritmo. E aceitaremos, demonstrando isto no bem receber o turista, em sermos hostes gentis e capacitados; assim faremos a nossa parte. Oferecer a infra estrutura necessária, embora  já tão polêmica  e quase frustrante  mas que a “volta por cima” resgatou.  Então estaremos, em 2014, “Juntos num só ritmo”. Pensemos nisto e continuaremos cada vez mais visíveis ao mundo!