Não somos invisíveis

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     “O Brasil está na moda". Evoco esta afirmação que ouvi, alguns    alguns anos, de um palestrante e me fez  pensar nas possibilidades do resgate de nossa identidade cultural  e auto estima.  Entendi  que nunca houve um “salto” tão grande em nosso país quanto ao período das últimas três décadas.
           
             Isto me fez  lembrar o fato de que há 20 anos atrás, ao me apresentar como sendo brasileira no exterior, lá  perguntavam: “ Onde fica o Brasil?”  Indignação e perplexidade; longe da  Zona de conforto, foi  o que senti.Neste início de século, porém, já se pode  ouvir  nos países da Europa: “O Brasil é lindo; as cataratas do Iguaçu são mais belas que o Niagara Falls” e outros comentários positivos em relação ao crescimento econômico e cultural. E isto é motivo de orgulho: a evocação de nosso locus torna-se tangível e faz sentir que somos reconhecidos como parte da diversidade que forma este mundo globalizado.

 
Dole-cidade medieval onde nasceu Pasteur
Em janeiro de 2010, viajei ao Marrocos em companhia de amigos brasileiros de minha juventude e que constituíram família na França, o que “enriqueceu” muito minha viagem; os momentos foram de feliz reencontro, pois vivenciei o seu cotidiano, compartilhei instantes alegres com os filhos e netos, li os seus jornais, assisti aos seus programas preferidos na TV, a  culinária, enfim, o seu viver. Convivência que só é possível quando existe uma antiga e verdadeira amizade. “Une ancienne amitié”, ( uma antiga amizade) como meus amigos me apresentavam aos vizinhos e amigos. E foi então, neste tour pelo norte da África, que conheci um casal francês que mora em Dole, linda cidade medieval  no noroeste da França , na região dos Alpes Franceses, onde nasceu Pasteur, um dos maiores expoentes da biologia do século 19.


Chamonix Mont-Blanc
Estes amigos virão ao Brasil me fazer uma visita e conhecer nosso país que consideram como algo importante. Os visitei quando fiz uma viagem de trem em janeiro deste ano rumo à Chamonix-Mont Blanc, com uma escala nesta pequena cidade que fica no trajeto, na base dos Alpes; sua acolhida gentil e solícita me encantou ao ponto de voltar atrás na minha impressão de que os franceses são prepotentes. Gostaram de serem meus amigos mas percebi  também, que o fato de terem agora uma amiga brasileira, era importante para eles. O importante também era conhecer o Brasil!

Amigos franceses de Dole
E então constatei: no exterior não somos mais invisíveis. Somos admirados e o olhar e a leitura que fazem do Brasil é outra. De respeito e reciprocidade, para minha alegria. Neste olhar senti que existe simpatia e até ( pode ser exagero meu), uma certa reverência para com esta brasileira que teve uma experiência anterior diferente na América do Norte, há décadas atrás:uma falta de reconhecimento do nosso valor cultural.
           Isto pode nos deixar mais otimistas,  integrados no processo de globalização; sabemos que temos problemas, o discurso não pode ser determinista porém sem problemas não existem soluções. Crise existe, mas muitas vezes faz crescer.  Repensar atitudes  e ações, para não chegarmos ao caos: órfãos e vazios de espiritualidade. Assim estaremos fazendo a nossa parte.

                  Percebo que existe uma  dialética, que se apresenta  como sendo o imperialismo de um lado (  a globalização e a revolução tecnológica ) e a multidão, o povo como o grande capital do século 21, que já entendeu a necessidade de sua inserção nas redes sociais  e questões ligadas à tecnologia, junto à sua riqueza de manifestações culturais e movimentos para mudanças políticas e econômicas. Isto faz pensar a necessidade de refletir sobre a identidade cultural, pois o conhecimento liberta; estaríamos ainda escravizados? A leitura informa e transporta o conhecimento que é o nosso único bem inviolável. À passos largos caminhamos, tentamos reverter o quadro de que, segundo dados do Ministério da Cultura, 60% dos brasileiros não tem acesso aos livros. E isto preocupa,  pois é na cultura que encontramos subsídios que permitem alcançar metas e nos coloca na percepção e inserção no mundo.
           
                   Precisamos, então, da diversidade, pois é nas trocas das diferentes manifestações culturais que se exerce a democracia e a cidadania; o resgate de nossa identidade está alicerçado no conhecimento assim como nossa personalidade tem seu alicerce na infância.
         
                    Neste planeta de seis bilhões de pessoas, também as vicissitudes  constituem a nossa história; por isso temos que estar  mais juntos, mais solidários, mais “pessoas”,  pois estamos inseridos num mundo pragmático e  capitalista, caso contrário, estaríamos  obsoletos e economicamente inviáveis. E neste viés, a nossa práxis faz-se necessária: não sermos meros espectadores mas sim, sujeitos da transformação e da solidariedade, do respeito a vida , esperança de amor nos corações.
                
                     O fundamental é que nossa cultura merece atenção e sem preocupação com ideologias, podemos pensar no que já foi dito há tempos atrás: “O melhor do Brasil é o brasileiro”. Slogan? Xenofobia? Ufanismo? Não sei. A verdade é que vem se instalando um grande otimismo em nosso país, um potencial subjetivo e a certeza de que a sociedade é sábia. Os slogans mudam, são dinâmicos e denunciam uma ideologia.

                     E agora, com a Copa do Mundo em 2014, anunciado pela FIFA surgiu o slogan: “Juntos num só ritmo”. Seja qual for a agência de publicidade responsável por esta criação, conseguiu passar a idéia da importância da união, do conjunto, do clima festivo do brasileiro, que somente nós conseguimos sentir e interpretar. As torcidas se unirão num ritmo festivo, colorido, exclusivamente nosso. Utopia? Pode ser, mas o importante é nunca deixar de sonhar . Temos uma posição privilegiada e reconhecida no exterior, no cenário global ; afinal, seremos anfitriões para o planeta , além de sabermos que o  futebol  aproxima diversidades, unindo pessoas de todas as idades e classes sociais; a cultura brasileira tem neste esporte ícones inesquecíveis, retratando o nosso potencial.

                   Então desde já, entremos neste ritmo, felizes. A felicidade tem na cultura o seu colo de mãe. Cultura gera felicidade.  Seremos muitas vezes convidados a nos unir num só ritmo. E aceitaremos, demonstrando isto no bem receber o turista, em sermos hostes gentis e capacitados; assim faremos a nossa parte. Oferecer a infra estrutura necessária, embora  já tão polêmica  e quase frustrante  mas que a “volta por cima” resgatou.  Então estaremos, em 2014, “Juntos num só ritmo”. Pensemos nisto e continuaremos cada vez mais visíveis ao mundo!

6 comentários:

Anônimo disse...

teste

Doris Azevedo disse...

Sonia, que experiência fantástica.Adorei a forma simples e clara que usas para mostrar nossa "ascensão" ao universo dos "visíveis". E esta proposta de resgate da autoestima nacional é linda e necessária para que"Juntos num só ritmo" tenhamos motivos cada vez maiores de nos orgulharmos. Bjs
Doris Azevedo

marilene disse...

Lindo amiga...se quiseres trazer esse casal de franceses até balneario Camboriu,ficarei tb contente em conhecê-los....grande abraço

virgínia além mar floresta vicamf / disse...

Querida Sonia, hoje consegui entrar ... Gosto mto. de ler-te, sempre consegues prender a atenção pois transmites além do teu olhar algo a mais e propões bom material para exercitar o pensamento.
saliento- "Percebo que existe uma dialética, que se apresenta como sendo o imperialismo de um lado ( a globalização e a revolução tecnológica ) e a multidão, o povo como o grande capital do século 21, que já entendeu a necessidade de sua inserção nas redes sociais e questões ligadas à tecnologia, junto à sua riqueza de manifestações culturais e movimentos para mudanças políticas e econômicas. Isto faz pensar a necessidade de refletir sobre a identidade cultural, pois o conhecimento liberta; estaríamos ainda escravizados? A leitura informa e transporta o conhecimento que é o nosso único bem inviolável..."
abraço afetuoso e grato de tua leitora e co aprendiz, virgínia vicamf NH RS BR.
ET- Li todos teus post.
O Blog está bonito, inteligente e sensível..bem n. poderia deixar de ser assim . Mais carinho

renata lehmann disse...

Gostei muito do teu artigo e das fotos. Deu vontade de viajar...beijos e parabéns pelo blog

Mari Travi disse...

Sonia!
Muito bom o texto! " Juntos num só ritmo"...Adorei este slogan. Tu escreves de uma forma que gosto muito porque é extremamente positiva e generosa, mostrando o lado bom da vida. É o que precisamos. Muito obrigada querida por este texto tão positivo, nos fazendo refletir sobre o lado bom do Brasil. Um beijão