Um Natal sobre o Oceano.

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Fico a pensar  sobre a criação literária. Escolher um tema ? Um título para o texto? Muitas vezes esta criação  determina ou obedece a uma rotina, quando se tem um prazo de entrega, caso contrário se faz seu ritmo. A crônica tem sua liberdade e até encontrar seu "tom", existe um longo percurso: da inspiração à postagem, como acontece aqui no blog. Quem disciplina a data de entrega nesta tela, é quem escreve. A crônica dá a liberdade! Porisso, não quero deixá-la em troca da escrita de um conto.

Pois eis  aqui, a crônica de hoje, de final de ano:


"Um Natal sobre o Oceano".


25 de dezembro de 2009. Amanhecer ansioso, noite mal dormida, quase insone. Malas prontas e fechadas na véspera me esperavam, perto da porta. Uma revisada: documentos, moedas necessárias em seu devido lugar, passaporte, enfim tudo ok! A porta  fechou o que a chave trancou: o meu pequeno,cúmplice e grande mundo. Mas vamos lá. O mundo me espera!

Aeroporto, check-in, portão de embarque.Oceano Atlântico a me esperar, o qual sobrevoaria entregue ao prazer de voar. Sempre achei incrível a potência de uma aeronave: como voar algo mais pesado que o ar? Sem pretensão de entender qualquer coisa em relação à aerodinâmica, pois  minha vocação sempre foram  as Ciências Humanas, isso não impede de refletir ao olhar o horizonte sobre as nuvens.Genial o homem e sua ânsia de superação. Sentir que a tecnologia a serviço deste feito fantástico,protege o ser humano;  poder pensar que centenas  de pessoas também estariam voando mundo a fora, dá uma certa segurança pois existe uma identificação. Afinal era uma aeronave de grande porte, potente, mágica e eu imaginava, repleta de histórias . Olhares se cruzariam ansiosos, sorrisos, talvez um toque de mãos que denunciariam uma certa ansiedade: viagem longa. 13 horas de vôo. Me reporto agora  à Freud , que em sua obra " O mal estar na civilização", já pontuava sobre o poder que o homem adquiriu através de suas conquistas, principalmente as ligadas à tecnologia,durante seu percurso pela história o que, com certeza, não o tornou mais feliz. Aumentou sua onipotência, inquietação, solidão e ansiedade. Agora, tem que dar conta de colher os frutos do que semeou, mas preservando seu aspecto psicológico.

Uma certa inquietação, uma culpa, me deixava desconfortável desde o momento em que saí de casa. Me acompanhou por algumas horas marcou presença enquanto caminhava pelo finger , em direção àquela porta de tantas histórias. Afinal, era dia de Natal! Durante a ceia no dia anterior, havia sido feliz com minha família. Eu e meu netinho havíamos trocado todos os carinhos, todos os nossos sorrisos e mimos. E ele estava lindo, afinal já se passaram dois anos os quais o tornaram uma criança encantadora. Havia brindado com a família, alimentado meu coração de amor e dado o que de melhor havia em meu coração. O Natal havia começado feliz, na noite do dia 24.
... afinal se passaram dois anos. os quais o tornaram uma criança encantadora


Encontrava-me, finalmente,  na entrada do avião e a surpresa: aeromoças e comissários perfilados. Todos com um gorro vermelho de Papai Noel, a saudar: "Feliz Natal!" Acho que ouvi alguém dizer " Bonne Fête".  Percebi uma certa tristeza por traz daqueles sorrisos receptivos e caricatos. Dei-me conta de que estavam deixando suas famílias ( como eu ???), para poder trabalhar; imaginava  o quanto poderia estar sendo difícil para eles, passar a noite de Natal longe de suas  famílias. Agora sei:  estava projetando neles minha culpa.
Precisava racionalizar, afinal eu merecia estas férias tão esperadas. A neige branca, linda e gelada me esperava.

....todos com gorro de Papai Noel

Enfim, procedimentos de rotina e o avião decolou. Uma lágrima rolou ao ouvir o choro de uma criança. lembrei-me de meu amor que aqui ficou. E então pensei, enquanto ganhávamos altitude: " Tenho menos anos a viver do que os já vividos". Então, Sonia, voilá!!O mundo te espera, o Sena te espera. O Lac Leman no Rodano, te aguarda.
Fechei os olhos , a culpa esvaiu-se. Comecei neste momento minha viagem. Deixei-me levar.. o barulho constante das turbinas junto àquele cheiro... único e gostoso que esta máquina fantástica exalava, me deixava tranquila e feliz. Um aroma mágico, inconfundível e inesquecível.

Depois de duas horas de vôo, outra surpresa. Champagne!  Francesa cortesia,  como não poderia deixar de ser. O avião trouxe da região de Champagne, ( não era Veuve Clicquot; não poderia ser! Completo demais!)  e agora estava voltando conosco, passageiros e tripulantes. Brindamos , discretos e felizes.
O comandante com sua voz especialmente aveludada, mas firme como bom francês, saudou: " Medames et Messieurs, bonsoir...". Interessante o efeito deste monólogo: acalma a alma, recebe e acolhe. Continuou fornecendo as condições do vôo, altitude, temperatura, chegada prevista. Novamente o brinde com um Feliz Natal, em conjunto.
Jantar econômico. Mas suficientemente bom! Reflexos da crise, da qual tanto ouvi falar depois, na Europa. Estava cada vez mais intensa . É um continente culto e todos sabem muito de sua História. 
E depois, o cerrar das cortinas: estranhas aquelas aeromoças francesas. Nada simpáticas. Bem que havia percebido naqueles sorrisos na hora da entrada. Eram caricatos mesmo!

...o que representava o Natal e Ano Novo

Através da tela acoplada no assento da  frente, pude verificar onde estava voando:  sobre a imensidão do oceano. Então, tentei dormir. No outro dia, estaria sendo recebida por amigos que com certeza me esperariam, ansiosos como eu. E claro, o Skype também. Tinha compromissos e saudades dos que ficaram aqui.
...um encontro marcado com a felicidade

Com certeza pensei o que representava a época do Natal e Final de Ano. O que a torna tão fascinante e especial. E então dei-me conta deste movimento interno, reflexivo e privado, que contece de modo automático, como sendo um "mergulho" em nosso interior. Ocorre uma auto-avaliação, um "balanço" do que foi realizado no ano que está terminando. Ao mesmo tempo, projetos são feitos quando então firmamos um "encontro marcado" com a felicidade no "ano que vai nascer", canalizando nossas emoções e expectativas no sentido de sermos pessoas mais completas,






Um FELIZ NATAL à todos!!!!







Facebook: o antigo álbum .

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Toquei minha alma ao procurar por antigas fotos guardadas para postar no Face. Foi quando me reencontrei com  os meus guardados. Estes encontros raramente acontecem, os evito pois sei antecipadamente o quanto irão mexer com meus sentimentos. Não me sinto muito a vontade  ao rever  meu passado retrógrado, aquele da aurora de minha vida.Uma emoção estranha, choro sentido mas tranquilo, ao reencontrar pessoas amadas que já partiram e como dizem para consolar, " daqui para a melhor". Que ilusão: "o melhor do mundo é aqui."! Como tentamos nos consolar; sofrendo ou não, aqui é o nosso lugar. Engraçado o ser humano, cheio de defesas mas  necessárias, para evitar sofrimento.
Foi quando me reencontrei com meu guardados.

Vejo fotos, as contemplo e analiso.. são todas lindas, sorrisos abertos, festas, abraços, beijos. Continuei pensando... Fui retirando, uma a uma  de uma grande caixa de lata azul,  fotos. Muitas . Amareladas, intactas, há muitos anos guardadas. Vários momentos que vieram com a mesma velocidade de um flash! Flash, assim mesmo: luminoso instantâneo, vivência, operação de uma máquina fotográfica; não um "flashback", que se aplica para entender a interpretação de um sonho, como metáfora, por exemplo. Lágrimas ao ver as fotos amareladas, tempo inexorável, irresgatável, inacessível mas evocado pela lembrança, pois felizmente, registrado por alguém! Provavalmente alguém de meu viver, como diria Mario Quintana.

Foi então que a vizualizei: uma foto segura por cantoneiras. Cantoneira? Claro, todo o álbum tinha suas cantoneiras. Num footing na Rua da Praia , moda naquele tempo, longo tempo,com meu pai e uma amiga, o meu primeiro amor: minha mãe. E em seu ventre, em algum daqueles inevitáveis e íntimistas momentos de diálogo entre mãe e filha,  soube que ali existia alguém: eu!
Num footing na Rua da Praia,moda naquele tempo.

Pois comecei a pensar: postar fotos no Face... Estamos esquecendo dos álbuns? Agora confinados em uma caixa ou esquecidos num canto da casa, distantes dos olhos e do coração, já estão obsoletos. Acontecendo o mesmo com os livros em relação ao abajour que quase perdeu seu lugar para a internet? Felizmente foi só um susto.Os livros estão mais vivos do que nunca!! Mas quanto ao Face, acho que acertei: é nele que postamos nossos sorrisos, nossas mensagens, nossas fotos em família e com amigos e abaixo uma mensagem como a que consta em meus álbuns , ou atrás das fotos mesmos: " À fada madrinha, uma lembrança de minha primeira comunhão". Claro que escrita com a linda letra quase gótica de minha mãe.

Os álbuns agora, pertencem ao Face. Seja de casamento: para o álbum físico, umas 20 fotos melhores. Para o Face, todas!!! O mesmo acontece nos aniversários de criança: 500 flashes para escolher 50 para folhear. Para o Face, todas!! Numa viagem, todos os cliques baixados no Face. Cópias físicas, 10 para ampliar e enquadrar enfeitando nossas casas ou porta retratos. E depois! Horas a visualizar, momentos de puro deleite a recordar e finalmente o melhor: compartilhar.  Existiria uma viagem feliz sem saber que na volta teria alguém a nos esperar no aeroporto? A ouvir nossas histórias? Ver como voltamos diferentes pois nosso olhar se enriqueceu para comungar nossos conhecimentos e experiências?
E os álbuns nostálgicos com fotos importantes, características imponentes e históricas das cidades? Scanner nas fotos: vão para o Face, grupos se organizam neste foco. Ou enviamos para o jornal da cidade: afinal tem a sessão de Túnel do Tempo e Almanaque.
Nada tem sentido sem o olhar do outro, conforme a Psicanálise.

Para muitos, o Face é sua alma na WEB.

Constato que, para muitos,o Face é a sua alma na WEB, colorida ou preto e branco. Tornou-se  álbum de fotos.Vista por nós mesmos, atrelada em cada um de nós,as fotos são como espelhos onde nos miramos na imensidão infinita da grande rede. Viajamos ao passado, mas também trocamos experiências, textos, saudades, beijos e abraços, confraternizamos, nos decepcionamos,reencontramos e fazemos novos e encantadores amigos.Quem não convive me parece fora do contexto, do que o sistema impõe, mas esta é outra questão muito importante que não cabe aqui.Este texto perderia completamente seu foco, ficaria triste e pesado.Não gosto de nada imposto. Ninguém gosta...  Falando nisso: o Facebook foi imposto por Marc Zuckerberger?  Não. Ele conquistou . Existe este lado  e outro também,o da obsessão. Este perigoso: não devemos nos deixar fixados no mundo virtual pois no real estão as pessoas que amamos, o mundo que nos espera e no qual temos que continuar a nossa essência de vivermos agrupados, no toque e no olhar .
E em algum dia, seremos lembrados em alguma foto. Num álbum de fotografias?

Nossos netos , em algum lugar no futuro, irão mostrar para seus filhos: olha a vovó, o vovô. Como se dará  isto? O Face dará lugar a outra Rede Social , assim como o Google. Um sem fim de ferramentas, aplicativos  e novas tecnologias. Nunca saberemos.

Pois, lembro agora da obra de Adouls Huxley, escrito em 1931, relatando uma verdadeira fábula futurista organizada sob um sistema  com avanços inimagináveis. Foi um "profeta"? Assustadora obra de ficção! Mas me pergunto:a condição humana de muitas conquistas cientificamente possíveis nos levará  aonde? Até que ponto o homem é senhor de si mesmo? Até onde vai o seu poder de criar ?Isto me preocupa!

Do Império à violência

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Rio de janeiro, 1975 - " Cidade maravilhosa, cheia de encantos mil".... Exuberante cidade  a qual, ao contemplar, lembrei  de imediato  dos belos versos com os quais um artista inspirado, André Filho, parceiro musical de Noel Rosa,  presenteou o Rio com  a mais linda marchinha consagrada como hino oficial da cidade.

Museu Imperial - Petrópolis-RJ
  Um encanto foi subir de carro a Serra Fluminense, coberta pela neblina que umedecia também meu olhar. Afinal, era a primeira vez que iria conhecer um museu do qual minha memória retera  alguns dados. Dos livros de história de minha infância,  evocava agora o que iria ver de fato nos quadros que, sentia eu, me esperavam há anos e que desvirginariam  meu jovem e inexperiente olhar, pois na fala existencialista de  Simone de Beauvoir, um local permanece virgem de qualquer olhar enquanto não for visto por nossos  próprios olhos. Estava prestes a conhecer o Museu Imperial, instalado num palacete neoclássico, na cidade de Petrópolis, cujas origens remontam à Época do Império.

Expectativa! Finalmente a entrada no museu. O  guarda! Agora sei que todos os museus  tem  guardiões.Necessitam deles.  Este, lembro que educadamente solicitou que tirássemos os sapatos. Substituídos por chinelos disponíveis para os visitantes , se andava confortavelmente pelos belos corredores. Feito isso, começou um longo, repeitoso e encantador andar pelas galerias. Um cheiro misterioso, bom de sentir, afinal era exalado pelas paredes de séculos de cultura e história. Um a um, quadros, fotos do Império, foram contemplados. O acervo do museu é constituído de peças ligados à Monarquia brasileira . Lindos mobiliários, documentos. Obras de arte, objetos pessoais desvelando o cotidiano da família real.  Penso que senti uma estranha intimidade. E lembro de ter lido em algum documento disponível, naqueles corredores soberanos e silenciosos, que Saint -Hilaire  e Charles Darwin lá estiveram! Encantadora surpresa! 

 Estava feliz em conhecer um mundo que  começava a se revelar para mim.O que se ouvia eram sussurros,  intensos, que mais tarde, décadas depois, ouviria no Louvre, ou em Firenze onde contemplei por muitos e muitos minutos , nem sei por quanto tempo, impávida, a escultura encantadora e polêmica por suas proporções, de David, e então entendi porque reza a lenda, que Michelângelo quando a concluiu gritou: "FALA!".


Gravura de David, de Michelângelo-Firenze
Janeiro 2004

 Ou no Castelo de Fontainebleau, no sudeste da França, um dos  maiores chatêaux reais, quando visitei a alcova de Napoleão Bonaparte, e soube que neste castelo ela assinou sua abdicação.Espetáculo!





Chateaux de Fontainebleau-2009-França
   


Chatêaux de Fontainebleau- 2009 - França
 

Mas quando visitei o  Museu Imperial, estes vôos tão magnificamente altos , não faziam parte de  sonhos dos meus então 27 anos. Nem sequer existiam neles, porque não havia espaço. Este eu  carregava comigo. Se formava em meu ser, o que eu  considerava a  mais linda obra de arte: minha filha.


Este eu carregava comigo. Se formava em meu ser,
a mais linda obra de arte: minha filha
Dez,1975
  E esta era tão mágica e encantadora, que só era interpretada por mim. Estava protegida dos olhares do mundo. Era a minha Gioconda e não de Leonardo da Vinci. E não era também a Pietá de Michelangelo: uma  mãe muito sofrida, apesar de tão espetacularmente bela a habitar a Basílica de São Pedro, envolta por vidros e longe de qualquer toque.


Pietá de Michelângelo- Foto- 2004
 
Era hora de voltar e descer a serra. Anoitecia e uma garoa fina caia deixando a visão do oceano muito especial.Uma bruma misteriosa abraçava a baía da Guanabara, o Cristo Redentor,...que lindo! Deliciosa e inesquecível imagem.

Chegamos na Av. Nossa Senhora de Copacabana: parada num supermercado para comprar algo para os anfitriões, que  esperavam nossa volta com alegria.Na saída, o susto!O inesperado. A chuva caía naquele asfalto,molhando um chão desconhecido  a  refletir faróis. Enquanto esperava que me pegassem para ir ao hotel,  encontrei abrigo embaixo de uma marquise cinzenta e úmida, entre os prédios famosos por sua arquitetura art-decô de Copacabana. Observando distraída, imaginava o hall de entrada revestido de mármore. Foi quando percebi que alguém se aproximava em minha direção.Um movimento brusco e então me senti invadida:  só pude ver o rosto de um homem jovem, que arrancou de supetão minha corrente do pescoço. Levou com ele um lindo presente, de grande significado.E lá, em meio ao trânsito, a vislumbrei  balançando nas mãos de um ladrão em disparada por entre os carros, o pior ladrão do mundo, pois levava um pouco de mim. Eu me sentia assim, invadida. Perplexa e  indignada, chorei. Doia meu pescoço marcado.

Assim foi minha situação como vítima da violência. Triste experiência numa " Cidade Maravilhosa" da década de 70.Uma realidade assustadora que não conhecia.
Nunca mais vi meu presente mas vejo a cena: flash backs da violência às vezes ainda me surpreendem.

E agora, no início deste milênio, necessário precaver-se  aqui, nesta cidade de aproximadamente 250 mil habitantes, que me acolheu há quase 4 décadas, quando não existiam  medos de assalto, de sequestros e desta violência que vem ceifando vidas e enlutando famílias inconsoláveis: perder um filho é ir contra o Ciclo Vital, "nadar contra a corrente". Sofrimento cruel!  Destes que não adianta tentar explicar o inexplicável.

De modo providencial e necessário, movimentos nas redes sociais e na comunidade, mobilizam-se efetivamente a fim de encontrar um caminho que leve à luz no final do túnel: o controle da criminalidade.Vozes se unem num clamor quase deseperado de um desfecho  com soluções urgentes.

Escrevi há 10 anos, um artigo: "Violência: um mal - estar na cidade", que foi publicado no jornal NH, na coluna Opinião, e  me parece agora,uma pré-visão de como iria evoluir a situação de violência que assola  nossa cidade, de maneira trágica.

Mostra que o medo não é somente de hoje, ele  vem crescendo proporcionalmente, e é legítimo. E me pergunto: até quando?

Eis o texto:

                                  
"Violência: um mal estar na cidade

Ao pensarmos em nossas vidas, constatamos que nascemos e vivemos no século mais cruel  e violento da história da humanidade. E no início deste milênio, convive-se diariamente com um massacrante  desrespeito aos direitos humanos: a violência, que se manifesta por meio de assaltos, sequestros, enfim, a criminalidade e a delinquência estão tomando proporções assustadoras.
Sabemos que nossa cidade caminha para uma urbanização crescente; a vinda do trem, por exemplo, é um indicativo disto. Mas temos que pensar também, nos reflexos deste crescimento em nossas vidas.
Percebe-se que há um mal-estar , um medo generalizado,  uma sensação de vulnerabilidade e isto por sua vez gera um clima de tensão que pode repercutir na saúde mental das pessoas, como paranóia, pânico, angústias, levando-as a estarem sempre vigilantes, com medo intenso de sairem às ruas.
Uma situação traumática, como um assalto, sob o ponto de vista psíquico, poderá afetar as pessoas que não possuem estrutura psicológica para lidar de forma satisfatória com a situação. Até as menos frágeis  e mais resilientes, podem sofrer um processo  de descompensação psicológica.
Existe um limiar de tolerância própria de cada pessoa em relação ao que ela experencia. E quando este limiar é ultrapassado, ela poderá desenvolver o Estresse pós-traumático, ou seja, a experiência de agressão é vivenciada como um trauma. E, após situações violentas não assimiladas , pode desenvolver instabilidade emocional e estados constantes de ansiedade e outras manifestações psicofisiológicas.
Sabemos que a violência é comum nos grandes centros, os quais servem como verdadeiros laboratórios para a criminalidade. Então, nossa cidade, parece sofrer os reflexos disso.
Cabe também pensar a violência como consequência de um fator maior: sua fonte é bem primitiva e está na degradação familiar, no desamor infantil, na perda dos valores. E também da marginalização consequente da situação sócio econômica, o que pode levar à drogadição e à perda do rumo.
A direção torna-se uma só. O cidadão como vítima destes  instintos violentos e perversos, dos assaltos e outras agressões à dignidade."

21 de agosto de 2002

Texto publicado no Jornal NH -21/08/2002

SER criança- do avental sujo de ovo à tecnologia.

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"A boneca de louça, de tão linda, se quebrou".... lembranças, sensíveis  recordações.

Onde contruí meu mundo, meu self.

Lembro perfeitamente como era a minha boneca inesquecível. Posso quase sentir sua textura, visualiza-la. Seu rosto era de louça, duas trancinhas caiam sobre seus ombros , seu vestidinho era listado azul e branco. Minha companheira inseparável com a qual tinha longos monólogos e lembro que eu acreditava que ela me ouvia. Só não lembro do nome. Acho que o enterrei no momento em que ela se quebrou.. caiu. Agora não tenho ninguém para ajudar lembrar: o ciclo vital se encarregou de levar aquela que eu amava com toda a minha alma e seria a única que lembraria.
Minha companheira inseparável com a qual
tinha grandes monólogos.
 E brincava muito: de casinha, vermelha de dois andares, onde as bonequinhas eram os personagens de uma peça teatral, com protagonista, coadjuvantes e figurantes. Representavam a minha vida. Uma infância feliz de contatos com meus irmãos, primos e amigos da "aurora da minha vida", onde fui construindo meu self  através de brincadeiras, travessuras, descobertas e encantamentos, cantigas de roda e de ter tempo para contar estrelas que povoavam meu imaginário.E de perceber  que existia bem perto, um " avental todo sujo de ovo".



Este self, o eu, cria-se através do vínculo mãe-bebê. O amor de mãe é o nosso primeiro amor. Nos dá proteção. É o nosso socorro, o nosso abrigo. É a nossa segurança. A mãe ama sem limites, sem condições nem interesses próprios, sem exigir nada em troca. Vive para o filho. Sem dúvida, se preciso,  morrerá por ele.A amamos tanto, dependemos dela, mas de repente crescemos e nos damos conta que ela é de carne e osso. Não é mais o ideal perfeito ; se ressente, se queixa, se cansa como os outros. E é necessário que seja assim, caso contrário a simbiose, a ligação primeira mãe-bebê, continuará pela vida afora, dificultando a autonomia e a independização.

E, se esta mãe for "suficientemente boa", como afirma o genial psicanalista inglês Winnicott, a criança será feliz e mais tarde um adulto inteiro. Ele enfatiza também, a importância do brinquedo e da criatividade para a saúde mental da criança.Para ele, muitos problemas da fase adulta, surgem em decorrência de conflitos entre a criança e a mãe. Mas se ela for presente e continente ( Bion), aquela que nos estágios diferentes de  desenvolvimento de seu filho través de  holding, ou seja, um "colo" propício ao desenvolvimento saudável  e formação de um Ser - humano independente e feliz, os sonhos e fantasias se confirmarão.

O amor da mãe é o nosso primeiro amor
 Aos poucos percebemos que começamos a nos afastar desta mãe, e aprendemos a amar uma " mãe que -não- é- eu". Uma das nossas primeiras perdas.
E chega o dia em que a vida, o DEVIR, ou seja, a nossa capacidade de vir a ser únicos, a caminhar com nossos próprios passos, nos põe à prova: não podemos chegar ao amor adulto sem passar pelo infantil, não podemos amar se não sabemos o que é o amor, não podemos amar outra pessoa se não tivermos amor suficiente por nós mesmos. Um amor que aprendemos, sendo amados na infância. Em nosso tempo de criança!

Criança: monstros, bruxas, fantasias povoam seu imaginário na tenra idade. Ela brinca e o brinquedo é uma criação contínua, livre e espontânea. É através do brinquedo que a criança conquista sua relação com o mundo exterior e entra em contato com os objetos.Menino e menina: eles preferem configurações arquitetônicas onde possam " plantar seus amigos" e interagir com seus super heróis; elas preferem decorar o ambiente em que se encontram.

Todo o brinquedo tem seu significado. Grandes teóricos como Erickson e Melannie Klein, confirmam o seu conteúdo latente, aquilo que não é dito; só é conhecido através da psicanálise, que nos revela o inconsciente da criança. Por isso, o brincar no ambiente terapêutico: para entender seus conflitos que muitas vezes estão na família; a criança serve,  como porta voz dos mesmos, depositados nela.


É através do brinquedo, que a criança conquista sua relaçãcom o mundo exterior
A criança constrói com seus jogos um mundo representativo no qual dedica todo o seu cuidado. E a organização do brinquedo pode ser considerada como uma organização psíquica. Isto é interpretado, e então permite o alívio da ansiedade, pois eles contém fantasias projetadas pelo inconsciente da criança.

Mas....não existe mais "o avental todo sujo de ovo" de minha infância querida... Outros tempos.. outros interesses... outros estímulos.

O que aconteceu? Que era é essa?E agora?

A essência dos amores primeiros, continua a mesma. Mas o mundo mudou, e muito. As crianças na idade escolar, agora vivem em contato direto com a  pós-modernidade, noutro tempo, sabemos disso. O da tecnologia. Como será o futuro destas crianças? Não sei, não sabemos, ninguém sabe e muitas vezes me parece que elas estão funcionando como "cobaias de laboratório". Ninguém sabe o devir, o por-vir destas crianças.

Existe  o amor parental. O mesmo colo, o mesmo olhar, mas as famílias se constituem de forma diferente, fazendo com que que haja reestruturações e  obviamente  os conflitos aumentam.

As crianças  por sua vez, continuam brincando, fazendo travessuras, aprendendo mas precisam procurar de modo incansável sua inserção na cultura global. Pequenos grandes e competitivos consumidores  de artigos em voga na mídia, vivendo nesta condição pós - moderna.
Mais do que as marcas o importante para elas são os ícones infantis mercantilizados: Barbies, celulares,  um sem  fim de objetos provisórios, efêmeros e instantâneos reproduzindo comportamentos também instantâneos, efêmeros e cambiantes.

E como isto é sentido  pelas  crianças?

Crianças sabem tudo sobre Iphones, Tablets..

Elas vivem o mundo precoce da visibilidade como o fazem as pessoas de seu conviver. O ter!  São as crianças hightech, que sabem tudo sobre o uso e funcionamento dos note books, celulares, Iphones, Tablets, tanto como os adultos. Aprendem uma linguagem  de culto à tecnologia.

Estudos feitos, demonstram que isto pode levar  a criança a não mostrar interesse por uma determinada prática por muito tempo.As crianças pós modernas, desejam fazer parte do mundo das visibilidades, aparecer para poder ser.
Preocupante constatação:o que o homem criou com seus avanços o está comprometendo muito. Mesmo os mais otimistas, tem  sensibilidade para perceber isto.

A infância como a fase da  dependência, da insegurança e da ignorância saudável dos segredos do mundo, parece que está desaparecendo, dando lugar à crianças insondáveis, enigmáticas, com dificuldades nas relações, inseridas no mundo da cibernética. O número de diagnósticos de hiperatividade cresce , mas cuidado! Na maioria das vezes o TDAH ( déficit de atenção com hiperatividade), é uma denúncia que a criança está fazendo pelo desamor na família, por crises que estão acontecendo entre os pais e no seio da família.Ela também pode sofrer com a ansiedade de separação, no momento de ir à escola, aparecendo aí manifestações maníacas, de acordo com a leitura psicanalítica, ou seja, a hiperatividade. Cabe ao terapeuta resgatar, junto com a criança, o equilibrio psíquico.

  Existe ainda, no século XXI,  o convívio com a natureza e com o outro: o andar de bicicleta, a prática de algum esporte, a conversa "jogada fora", o resgate daquele filho que passa horas e horas conectado ao computador ou celular, no videogame, nos jogos eletrônicos. Um menino de 10 anos até se arrisca a cantar cantigas de roda,  mas prefere horas no computador com o Power Ranger substituindo  A pantera cor de rosa, por ex., que povoaram de encantamento crianças do século que passou. Existem silêncios que "falam" de solidão.. e que leva a individualização. Muitos pais estão atentos! Sabem da necessidade do dialogar familiar.


Muitos pais estão atentos. Sabem da necessidade
do dialogar familiar.
Eles estão precebendo a altivez infantil e as emoções que isto desperta neles e precisam entender que vivemos numa quebra de paradigmas. Cabe aqui entender o contexto desta nova infância e a necessidade de adaptação dos pais. Entender que vivemos uma revolução de costumes, que mexe com nossas convicções e nos faz rever valores e formas de relacionamento. A certeza de que o mundo muda, a criança muda, nós todos mudamos mas existem necessidades que não mudam. Todos continuamos necessitando do amor. Amar estas crianças tão inteligentes, que clamam por um olhar e um colo no qual se abandonam completamente num afago.Felizmente o amor, as boas leituras , um tempo para a família que os pais possam dedicar a seus filhos, funcionam como "colo" para a criança que daqui há pouco irá adolescer, pois terminará logo a infância. Começará então, na adolescência, uma etapa nova no Ciclo Vital, linda como a infância mas complicada, de delicado luto pela perda da criança que existia. Os hormônios provocando mudanças visíveis , enfim ... Sentirão a saudade da infância, tão maravilhosamente retratada por Casimiro de Abreu em sua antiga e sempre linda poesia: "Ai que saudades que eu tenho.. da aurora da minha vida.. da minha infância querida.. que os anos não trazem mais", apesar de nunca te-la ouvido.

Gerações que se sucedem: X, Y e Z.

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Frequentemente , não só  os Psicólogos enquanto estudiosos da alma e do comportamento humano mas também os que se interessam de alguma forma pelas emoções: Relações Humanas, Corporativismo, ou os das Ciências Exatas na área da Nanotecnologia, enfim, os seres humanos, tem acompanhado um fantástico desenvolvimento tecnológico.Um boom na humanidade. Isto provoca mudanças muitas vezes estruturais em nosso fazer profissional, por isso precisamos sempre de novas atualizações.
A Internet era algo inimaginável

 Fantástico este milênio no qual temos a oportunidade e o privilégio de viver!

Vários escritores ficcionistas, já previam muitas modificações em nosso "modus vivendi" e "operandi". Alguns anteciparam-se mas  muito do que previam, ainda não aconteceu: Arhur Clark, escritor britânico,  publicou na segunda metade do século passado, o livro "2010: o ano que faremos contato", onde imaginava que o computador , na primeira década deste milênio, estaria pensando e tomando decisões, dominando assim as máquinas através de um  alto grau de sofisticação. E o homem , um expectador e executor . Ainda não vemos este domínio mas sim as conquistas na área da neurociência, da biologia molecular e da física: a nanotecnologia não era nem pensada pelos melhores escritores; hoje podemos estar muito além do que escritores como Clark, na década de 60 imaginava. A internet era algo inimaginável e se tornou  incrivelmente popular e acessível em todas as partes do planeta.Podemos acessar informações numa velocidade incrível em alguns segundos. Nunca houve tantas descobertas na tecnologia como nos dias de hoje.Não temos um mundo noutro planeta mas temos decobertas incríveis. Através da explosão simulada, por exemplo, vimos como surgiu a  vida nos  momentos iniciais, após a explosão do evento científico Big Bang, que deu origem ao nosso universo, de acordo com a teoria cética e científica.

Por sua vez, vão surgindo neologismos, novas terminologias no transcorrer do tempo, como necessárias para classificar e assim podermos entender demandas advindas das mudanças. Ocorridas, principalmente de 50 anos para cá, precisam ser explicadas, entendidas e introjetadas.Nasce pois, uma nova forma , corporativa ou instituída, como recurso para distinguir e caracterizar as gerações. Muitos estudiosos chamam de " Teoria das gerações":

Geração X, que desemboca com seus descendentes na agora era tecnológica: seus filhos que fazem parte da  geração Y, que  por sua vez, constitue a atual geração sofisticada tecnologicamente, a geração  Z! Fazem avolumar um acervo digital através de uma pequena fortuna em bens digitais: tablets, smartphones, e-books, etc. Que geração virá depois? Deixaremos esta herança fantástica  às próximas gerações? Me parece infinito.. um  caminho sem volta, que o próprio homem criou e agora tem que dar conta!

Não nomear indivíduos com as mesmas características de épocas diferentes
As gerações assim nomeadas, X,Y,Z , possibilitam não perceber os indivíduos com as mesmas características  de épocas diferentes. Fica assim, fácil entender que um adolescente do século XXI terá características diferentes de um do século XX, ou nascido nos anos 50, 70 ou 90.

Quais as características da geração X? São os nascidos  dos Baby Boomers da Segunda Guerra Mundial.
Quem eram os  Baby Boomers? Criados num cenário " pós guerra", eram otimistas, passaram pela reconstrução da Pátria destruída pela guerra,  visão de progresso, esperança por um mundo melhor, consciência política, sensibilidade, ambição, sucesso. Assim chamados, da expressão do inglês: " explosão de bebês". Estes, nasceram teoricamente entre 1943-1960.

Estes conceitos , muito usados  principalmente nos estudos sobre tecnologia, e no corporativismo,permitem  separar pessoas em grupos. E como toda a classificação nova, considero que  está sujeita a critérios de julgamento e problemas. E faz pensar: como uma pessoa da geração X, por exemplo, podem acompanhar as mudanças tecnológicas e dominar as ferramentas de trabalho renovadas a cada dia, como o fazem as gerações posteriores? Com certeza assustam-se, atrapalham-se diante da máquina. Sua alfabetização foi a cartilha, o quadro negro, o giz, a disciplina que um "olho no olho" já propunha e bastava.

Solidão, dependência, da tecnologia.
 E muitas vezes impotentes, por ignorarem, notam sabiamente os problemas que os jovens, muitas vezes seus filhos, possam apresentar: solidão, dependência da tecnologia, quase rompimentos dos vínculos reais e outras manifestações psicológicas: depressão, isolamento. Vejo a geração X como criadora da globalização e da crise.Uma incrível e paradoxal transição!!

X,Y,Z! Características:

 A geração X,  que estudiosos  classificam como os que nasceram entre 1960-1980.
Cenário onde foram criados: seus pais,  workaholics desligados muitas vezes de empresas devidos aos avanços tecnológicos; mulheres que foram à busca de empregos para agregar renda à família. Novas carreiras surgiram para homens e mulheres e suas cacterísticas em evidência despontam junto às primeiras tecnologias; criativos, anseio por atividades prazerosas, busca do sentido da existência, início da liderança feminina, comunicação efetiva.

E a geração Y?
Ansiosos, empreendedores,atentos à qualidade de vida e ao status
 Também chamada  como Geração NEXT: pessoas nascidas entre os anos 1980 e 2005 e por isso, filhos da geração X e netos da geração Baby Boomers. São os que sonham em conciliar trabalho e lazer, e muito ligados às novas mídias. Ficavam com seus avós Boomers enquanto seus pais saíam para o trabalho. Trata-se da geração do tudo pronto: hora de ir para a escola, de ir  à natação, hora de jantar,  de brincar,  de fazer judô, etc. Geração formalmente assediada pelos avanços tecnológicos. Com isto não é difícil perceber suas características de perder a capacidade de planejar, mas de aprender com facilidade, resilientes ( resistentes à frustrações), fazem várias coisas ao mesmo tempo, vivem o hoje de forma intensa, práticos, objetivos, inovadores: feedback torna-se quase indispensável. Ansiosos, empreendedores, atentos à qualidade de vida e status.

A Geração Z, a atual.Conectada através de dispositivos da cibernética, nascidos a partir de 2005.Muitos autores afirmam que podem ser integrantes ou parte da geração Y, e concordo: precoces cognitivamente, visto sua estimulação, vêem muitas vezes seus lares ruirem. Os relacionamentos de seus pais duram cada vez menos tempo e muitos são criados pelos avós (X) ou creches, babás, escolas, etc. Computador e tecnologia fazem parte de sua educação básica. Com cerca de 4 ou 5 anos, já se sentem bem à vontade com as novas tecnologias, diferentes da Y que sofreu com o momento de mudança. Importante momento!

Estas classificações surgiram recentemente no âmbito organizacional e possibilitaram criar-se a " Teoria das gerações". Vejo como uma nova tendência a espera de comprovamento científico.Mas bem fundamentada. A transgeracionalidade, o que e como se passa de geração em geração, é um contexto  estudado com profundidade  na Psicanálise e por ela entendido  em seu olhar científico
No Marketing, surgiram para entender como se comporta o consumidor e rapidamente virou estudo de psicólogos e profissionais das Relações Humanas, para entender como agem os colaboradores.
Em nosso cotidiano, as pessoas da geração Y podem  perceber que tem características da geração X. Isto explica a importância da transgeracionalidade, de que nosso comportamento, nossa personalidade é fruto da interação com o meio no qual fomos gerados, ou seja, de nossa herança genética e  meio cultural.
Necessitamos do afeto e do olhar do outro para sermos felizes

O futuro destas gerações, não sei... o que virá, incógnita total, talvez uma geração alfa? Mas sem jamais perder a ternura, o convívio, os vínculos afetivos. Somos seres gregários, necessitamos do afeto e do olhar do outro para sermos felizes.
Enfim, não foram as gerações que mudaram, não fomos nós quem mudamos, FOI O MUNDO QUE MUDOU.

Paris: Mercado de Pulgas e Maria Antonieta.

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Paris, janeiro de 2012. Chegada à movimentada  estação do metrô Porte de Clicgnancourt, linha 4. A calefação, funcionando com toda a sua  potência, me protegia do calor e, de repente, subindo dois lances de escada, eis-me na superfície: frio de 5 graus , o sol iluminando o lado norte da Cidade Luz, no 18 arrondissement. O encontro feliz e caloroso com amigos que me levaram a conhecer um dos lugares mais interessantes e pitorescos. Ter amigos é importante demais, até em situações assim: amigos brasileiros que moram na França proporcionam estas experiências, numa troca recíproca de saudades.


   ...amigos brasileiros que moram na França, proporcionam
estas experiências, numa troca recíproca de saudades.



Estava me dirigindo a um lugar que vale a pena visitar. E, então,  não raro ouvia  turistas  perguntando e um parisiense não tão inacessível assim, orientando:  "Le marche? Aux puces de Saint-Ouen", indicando e sinalizando um endereço de visita importante, guardando as proporções e em outro segmento, como o Louvre e o Arco do Triunfo. Percebi que é um conterrâneo destes lugares, tão rico em histórias quanto os próprios.

Depois de andar tanto, esqueci o frio. Não me incomodava mais e finalmente: "Aux puces de Saint - Ouen"! Somente alguns minutos lá, para perceber que aquele lugar era o paraiso para turistas de derradeiros tostões no bolso, a fechar seu sonho de conhecer Paris. E então para mim também, pois depois de um mes, a viagem estava terminando. No dia seguinte voltaria ao Brasil e me pareceu que esta visita ao Mercado, era perfeito para um final de viagem; e na volta, já no avião,  quando a aeromoça sorridente passaria oferecendo produtos de perfumaria, com o carrinho da boutique da empresa  aérea, num impulso  pegaria alguns euros que sobraram e que as vezes possibilita comprar  souvenirs para meus amores que ficaram aqui me esperando. E sentiria  que o que gastei no Puces de Saint-Ouen, foi uma troca válida. Os presentes estariam na mala, no bagageiro do avião e no meu coração, estariam todas as boas lembranças da viagem, junto ao que havia trazido do Mercado de Pulgas de Saint-Ouen.

E o que seria Les puces de Paris  Saint-Ouen?

Puces de Saint-Ouen ( Mercado de Pulgas)

Este Mercado é mais uma feira de antiguidades, um local  vintage, onde pode-se olhar de tudo, garimpar à vontade, desde que se tenha fôlego. Afinal, são 11 km de ruelas, passarelas e explorar cada cantinho, era um convite irresistível, mas impossível. Precisaria de uns tres dias, então conformei-me ao que era sensato. Seguir junto aos amigos, que junto ao seu carinho, me ciceroneavam e onde paravam, gentilmente eu seguia seu roteiro. Afinal, eu estava deslumbrada e tudo para mim era um espetáculo!!! E como diz Fernando Pessoa, " Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena".

Soube que, antes de se popularizar em outras capitais da Europa, este tipo de comércio era característico dos subúrbios da França, mais precisamante de Saint-Oues. Depois, vários mercados começaram a abrir nesta região do norte de Paris, depois da primeira Guerra Mundial e o lugar virou moda!

Não se trata de simples objetos velhos(...) uma festa para os visitantes
 Roupas, mobiliários, luminárias, quadros, bibelôs, biscuits, bijouterias, jóias, livros, roupas eram vendidos. Hoje, forma um grande labirinto que recebe cerca de 9 milhões de visitas ao ano. Percebi que não se trata de simples objetos velhos. Podemos encontrar, ao lado de uma loja de discos ou livros, produtos da Gucci, Chanel, Hermès e outros em ótimo estado, por mais da metade do preço; uma festa para colecionadores, profissionais da moda e para o próprio visitante. Curioso é perceber que a sustentabilidade se faz presente; tão em voga quanto as novas tecnologias que visam agredir menos o ambiente, está a idéia de reduzir o lixo e evitar o acúmulo do consumismo: comprar uma roupa que pode ser usada denovo. Virou alternativa fashion e inteligente nas grandes cidades. E uma filosofia. (Ainda chegaremos lá)....

Maria Antonieta: a última Rainha da França
E, caminhando nestes corredores, depois de entrar, admirar obras de arte, folhear revistas e livros, admirar móveis e objetos do início de 1900, art deco dos anos vinte e  trinta , talheres, objetos da arte africanas e orientais, câmeras e também coisas estranhas, kitch, roupas antigas, eis que meu olhar estanca : numa prateleira entre outras peças antigas, vejo uma linda boneca de vestido azul e penteado de rainha dos castelos medievais franceses. Meu amigo falou: " É Maria Antonieta, leva!" Titubiei, controlei meu impulso, olhei novamente, segui meu caminho. Sentamos cansados para uma pausa e um café reconfortante. Pensei na distância que me separava daquela boneca e que, se não voltasse, nunca mais a veria. Então pedi aos meus amigos que me esperassem,pois iria buscar a Maria Antonieta, a Rainha da França. Por 10 euros estava em minha mão, uma representação da identidade histórica de Versailles, de Luis XVI, dos pobres de Paris. Quem havia feito aquele deslumbrante pequeno vestido, armado e gracioso a vestir a boneca? Nunca saberei, mas tenho a feliz certeza de que a tenho em meio aos meus guardados. E na memória, com exatidão, o momento em que veio parar em minhas mãos.
Estava encantada como uma menina mas mais ainda em ter comigo um pouco da história. Uma preciosidade.

..tenho a  feliz certeza de que a tenho em meus guardados.

Quem foi Maria Antonieta? A última Rainha da França do século XVIII.
Filha de imperadores autríacos que aos 14 anos casou ( sim.. se casava cedo naquela época) com o delfim francês, Luis, que em 1774 tornou-se o Rei da França. Exerceu grande influência política sobre seu marido e consequentemente, sobre toda a França.
Ao iniciar a Revolução Francesa, colocou o rei contra ela. Estudiosos dizem que ela procurava romper um conflito bélico entra a França e Áustria, esperando a derrota francesa. E, em 1792, foi detida e encarcerada pela revolução, junto com seu marido. Depois da execução de Luís XVI foi condenada à morte, morrendo na guilhotina em outubro de 1793.
Em linhas muito gerais, esta foi Maria Antonieta e o é ainda, para a história.

Era uma lançadora de moda inquieta, ( não por acaso encontrei a sua réplica no mercado charmoso de Paris). Chocou ao vestir calças, até então exclusivas dos homens.Deixou de lado os espartilhos e as barbatanas e adotou peças leves, para se aproximar dos camponeses. Quando queria exibir sua riqueza, surgia em público com vestidos suntuosos e penteados rocambulescos, de quase 1 metro de altura. Para a historiadora francesa, Caroline Weber, tudo isto fez dela uma precursora das celebridades atuais, em especial a cantora Madonna. Autora do livro "Rainha da Moda" ( Zahar), já lançado no Brasil, Caroline defende que a nobre foi a pioneira em um comportamento que hoje é comum entre as celebridades.

Maria Antonieta: a primeira figura real européia, a descobrir que não era necessário seguir as tradições para ganhar o respeito do povo. Percebeu que o modo de vestir, poderia ser o componente essencial  de sua fama. Além disso, fez com que o mundo fashion, ficasse acessível para pessoas de todas as classes. Naquela época e guardando as proporções, incrivelmente inusitado!

E assim terminha o meu passeio pelos tesouros do Mercado de Pulgas  de Saint-Ouen e de sempre lembrar: "Le Marche? Aux puces de Saint-Ouen"!!!




Facebook: uma comunidade?

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Convivemos com os avanços da pós-modernidade, assim denominada no século XX, quando houve a queda do Muro de Berlim e passou a prevalecer o capitalismo contemporâneo. É vista pelos mais céticos, como a época da desvalorização  e das trocas de valores. Mas suas conquistas tecnológicas são incontestáveis: o Tablet, que meu netinho de 4 anos, de pura sabedoria cibernética própria da "geração z", sabe manejar. Habilidosamente constrói os seus joguinhos de memória. Sabedoria pura! Espetáculo! Celulares que nos conectam aos confins mais recônditos do planeta. Computadores, Câmeras digitais, Câmeras de vigilância a nos proteger, GPSs, IPhones, IPads..IPods... enfim, este aparato todo foi criado  pelo homem em sua ânsia de superar-se . Até quando? Aonde vai parar? Não sei, às vezes me parece infinito. Espero que o homo sapiens (para mim é assim agora sua verdadeira denominação), não se perca nestes formidáveis meandros de sua própria criação.

E o Facebook! O nosso meio de comunicação virtual. Muitas vezes nos enamoramos dele ou nele. Recebi compartilhada, uma charge, uma tirinha primorosa inspirada na técnica psicanalítica :

O terapeuta, sentado no setting psicanalítico,  pergunta ao paciente recostado no divã:
- "Como é sua primeira consulta, vamos fazer um pequeno inquérito. O senhor tem muitos amigos?"
O paciente:
"Não sr. doutor. Só tenho Facebook".

É claro que isto instigou meu olhar, meu re-olhar, um pensar a minha prática enquanto psicóloga  e  ao mesmo tempo me fazer presente  nesta "comunidade" com uma certa frequência.

...ao postarem, ao curtirem, passam exatamente a sua realidade.
O Facebook. O que é o Facebook?

Ouvi do psicanalista Contardo Calligaris : "...as máscaras que usamos no Facebook são como as outras tantas que usamos na vida em outras situações". Então, lembrei-me do lado A e do lado B das pessoas, da caixa de Pandora de cada um de nós. Uma pessoa tímida poderá parecer descontraída em  seus diálogos e postagens, a pessoa pudica poderá mostrar seu lado um tanto expositivo e sem censura, postar conteúdos vexatórios que jamais falaria ou iria referir-se na vida real; sempre um perfil que nem sempre condiz com sua própria verdade, ao passo que outros ao postarem, ao curtirem, passam exatamente a sua realidade.

Na verdade, o mundo Face  permite que, ao abrir a página, vejamos que curtiram nossos comentários e a sensação é a de pertencer, de fazer parte de um grupo, por ele sermos acolhidas. Ou rejeitadas. Isto faz pensar que nascemos, crescemos e morremos ligados a um grupo social: um dos pilares da Psicologia Social que  me acompanha desde eu - filha até eu - avó. Somos seres gregários , precisamos viver em grupos. Agora estamos constituindo grupos virtuais que muitas vezes irão concretizar-se em um mundo real: movimento incrível da capacidade humana em agregar-se, na necessidade de um olhar, felicidade estampada no olhar curioso de expectativas, e a presença do toque, no real abraço como  inerente ao ser humano.Um reencontro : do virtual e do real.

Grupo! Desde a Grécia Antiga, existia Ágora: era como se chamavam as praças públicas, onde os cidadãos se reuniam para tomar decisões referentes às suas cidades ( Pólis), principalmente em Atenas. Era o símbolo da democracia ateniense. As decisões eram compartilhadas em grupos.

Passa despercebida por muitos, mas será que não estamos revivendo uma Ágora virtual que o tempo e no século 20 e 21, Steve Jobs, gênio visionário criativo, aperfeiçoou? E que Mark Zuckerberger tem a seu domínio, a rede social Facebook? Marc já processou uma revista que publicou documentos e informações sobre seu passado. Estranho, para alguém que criou uma rede social que se baseia na partilha de informações pessoais e para cumprir uma missão social: tornar o mundo mais aberto e interligado. Parece que criou uma  tecnologia para isso, diz que a "partilha é o futuro", conforme as informações midiáticas trazem.




E já ouvi o inusitada colocação: nesta segunda década de 2000, estamos vendo somente a ponta do iceberg! E então? Sugere que muitas novidades aparecerão, para a perplexidade de muitos.

Muitas coisas  acontecem no Face.A realidade é que a importância de compartilhar experiências, sentimentos, histórias, fotos de família, histórias de vida se atravessam na dimensão heterobiográfica das biografias da vida. O que compartilhar? O que se faz em comum, as afinidades, as implicações da cada um- histórias de vida; vida- partilha de vida: uma comunidade que se processa, momentos que se vive. E o que é Comunidade? Uma potência de nossa existência. Se constrói o comum: surgem questões de solidariedade no contato virtual, muitas vezes virtual-real com o outro.

O Facebook possui também uma ética; existem livros e artigos. As pessoas sensíveis detectam por si só estas regras mas parece , às vezes, que estamos pisando em um campo minado onde uma vírgula, um ponto pode desvirtuar o que se está digitando.Então, cuidemos da ética singular do Face.

E também, cuidarmos dos efeitos do uso abusivo da internet, se faz necessário.


Não podemos negar que é fascinante sabermos que temos o mundo em nossa frente, com um clique no mouse; a sofisticada tecnologia cresce em alta velocidade, derrubando fronteiras. A realidade virtual existe num mundo on line, onde o espaço, o tempo, geografia , identidade e cultura, parece não terem fronteiras.

Mas e os efeitos em nossa vida psíquica e  relacional? Trata-se de um mundo virtual bastante sedutor e que pode interferir  no mundo real. Importante cuidar para que a identidade do ser humano não seja " tragada" pela virtualidade; é preciso saber usar a internet, buscando nela não o uso abusivo e obsessivo mas o que a mesma tem a nos oferecer em termos de informação, lazer e entretenimento. Existem riscos comprovados através de pesquisas:  a Internet pode ser prejudicial à formação e conservação de vínculos interpessoais, levando  ao isolamento e solidão através da relação abusiva: homem-máquina. Temos que ser sábios e conhecer  nossas limitações.


Por sua vez, parece que novos olhares fazem com que nos identifiquemos com " A Insustentável leveza do ser"..  De  ser Face. Milan Kundera, escritor checo do século passado, me proporcionou ler duas , tres vezes sua obra, que  tornou-se um mito.Preconizava  não   cometermos o erro da mesmice; neste século parece que a mesmice está entrando em desuso.Vejo também uma dialética entre o real e o virtual. Deleuze já confirmava sua existência nas relações reais, como gênio crítico da dialética. Então, parece haver uma confirmação do que se pensava num passado não remoto.

Enfim, temos um "tom" ao escrever uma crônica, um texto; o Facebook também tem seu tom, com o estilo próprio de cada um ao postar, assim como ao dialogar no mundo real. A tecnologia proporciona isso: a criação literária determina uma rotina mas quando não existe o prazo de entrega, ela mesma faz seu ritmo. E a crônica traz  a liberdade de escrever!


A Olimpíada e a Iconografia: Grécia e Londres

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Os ícones gregos são referenciais em toda a Olimpíada.



Ao assistir o apagar da  pira Olímpica, única e espetacular, na recente Olimpíada de Londres, recordei de um artigo que escrevi   por ocasião dos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004: "Olímpiada: o deus Eros". Reli. E re-conheci que não é por acaso que os ícones gregos permanecem, ressurgem da antiguidade e são referenciais em toda a Olimpíada, à partir do séc 19 . É na Grécia Antiga  que encontramos a importância da iconografia, ou seja, reconhecer e interpretar os símbolos culturais. Eles conferem a identidade a um povo. Os principais são resgatados dos símbolos gregos e de um ideal olímpico de paz. Este símbolos, nos jogos olímpicos,  são representados através da pira olímpica, da bandeira com os 5 aros entrelaçados, os traçados, emblemas e desenhos nas três medalhas que tocam o peito dos atletas, com emoção e orgulho e outros ícones. A iconografia contemporânea, ou seja, os símbolos representados em Londres,por exemplo, além dos ícones gregos,  estabeleceu a sua identidade através da música pop, e em 2016 fica a missão para o Rio de Janeiro, o Brasil mostrar sua história .

No texto que reli por ocasião da Olimpíada de Atenas, escrevo o que foi visto na cerimônia de abertura : "(...) O homem alado que flutuava sobre  o estádio, num espetáculo de rara beleza e significados: representava o deus Eros, deus do amor. Parecia abençoar a todos, enviando ao mundo uma mensagem de fraternidade. Os filósofos gregos já falavam do amor, sonhavam com a imortalidade e questionavam a razão de nossa existência e finitude. Atenas torna-se  agora poesia contada em mitos; os deuses do Olimpo estão presentes como constitutivos da história; a mitologia grega tem em Atenas, uma cidade abençoada pelos deuses:Hera, Apolo e tantos outros. E Eros que surge como absoluto, sobre o espetáculo de abertura.

Os historiadores, com certeza identificaram a prática social nos rituais e nos ícones, assim como as mensagens que daí poderiam ser interpretadas, percebendo a distância cultural entre presente e passado, através da historiografia . Na Grécia nasceu a democracia, o teatro, a história, a filosofia e agora, neste espetáculo, na Atenas de 784 a.c, imagens são representadas através de ícones que nossa percepção permite interpretar.

E em Olímpia tudo começou;  o espetáculo representado pelo logotipo dos aros identificando  a Olimpíada, parece um apelo de união fraterna entre as nações, representado pelos cinco anéis  que unem os cinco continentes deste nosso planeta e enlaçados, sugerem união e paz. E, no final desta cerimônia, como resultado do poder do homem e da tecnologia que ele próprio criou, viu-se os avanços da ciência que parecem infinitos: a representação do DNA. Então refletimos: o homem começa a brincar de deus mas esperamos que o faça com sabedoria e ética."( Artigo publicado no jornal NH, Coluna Opinião, em 18 de agosto de 2004.)

O Big Ben marcando pontualmente
Agora, em 2012, este mesmo espírito olímpico mas com outra iconografia, aconteceu em Londres, a cidade teve a sede de uma Olimpíada na era moderna. E a acolheu num evento considerado como a maior edição histórica dos Jogos Olímpicos. Tanto na abertura quanto no encerramento, uma festa à altura. Permaneceram muitos  ícones gregos, a essência é a mesma mas surgiram ícones, símbolos contemporâneos porque reflete a Londres contemporânea, Pop em suas músicas, em seu vestir, em seu modo de ser. A cerimônia da abertura foi linda sobre o Tâmisa até a chegada no estádio. No encerramento,o Big Ben, marcou pontualmente em uníssono com o público : one.. two.. e  eis que surgem da platéia os atletas com suas medalhas. Merecidas homenagens aos voluntários, excelente!

Jonh Lennon não poderia faltar em terras britânicas. Lindo coral a cantar " Imagine" e embalar a imagem projetada, uma foto de mais um ícone e sua própria voz. Sua face montada num quebra-cabeça virtualmente traz Lehnon à pátria - mãe.

Rio Tâmisa 

E a música Freedom? Não poderia faltar, já que liberdade é a essência de toda a democracia. Uma parafernália eletrônica marca este encerramento e mostra à que veio. Encanta o mundo
Fiquei a pensar; a Inglaterra se basta! Sua moeda não é o Euro, sabiamente ou não, rejeitou a nova  moeda introduzida na Europa no início deste século. A Libra continua reinando discreta como a fleugma do britânico e do rei, rainhas e súditos  da monarquia. Nada parece dar errado, nada não pode ser pontual.

Palácio de Buckingham
Medalhas de ouro, prata, bronze são beijadas pelos atletas; bandeirinhas e bandeiras tremulam. Alegria: missão cumprida.A Grã-Bretanha delira em todos os segmentos: moda. Painéis gigantes, fotos gigantes de modelos famosas. Modelos de verdade! Naomi Campbel, Kate Moss. que coisa! Espetáculo!Spice Girls, Bee Gees e, finalmente, o Hino da Olimpíada: "  Survival"
Show de tecnologia! Linda e legítima a homenagem  à Grécia, com sua bandeira sendo hasteada. Levou os jogos olímpicos ao mundo.
Surge o prefeito do Rio de Janeiro: 2016 será aqui!Nosso hino nacional sendo tocado e eu me emociono. Entra o samba do Brasil, um de nossos ícones.
Heitor Villa Lobos interpretado por Marisa Monte, então ouço a Bacheana número 5, um tributo à cultura brasileira.
E o Brasil sendo anunciado como sede da próxima " casa da olimpíada".
Senti que iniciava, neste momento, no Brasil e vislumbro  Pelé emocionado.
Agradecimentos à generosidade do povo britânico, final de festa e apaga-se a pira simbólica...
Hyde Park- Londres
E o bastão foi passado ao Brasil. Agora a missão é nossa! Quem serão os ícones a serem apresentados nos Jogos Olímpicos no Brasil? Com certeza  deverão estar relacionados com nossa identidade cultural. O Cristo Redentor tão lindo? Os ícones carnavalescos? Eu me importo com estas escolhas e sei de nossa diversidade que certamente estarão representados. É  organizar, apresentar e fazer bonito!!


O bastão foi passado.A missão é nossa!
Rever Londres tão seguidamente na mídia, nestas duas semanas que passaram, trouxe-me recordações. A conheci nos anos 80 e  o outono lindo deixava tudo mágico. Chegada no aeroporto de Heathrow e o ônibus vermelho de dois andares, lindo ônibus de meus sonhos, no percurso aeroporto hotel: não poderia haver chegada mais pitoresca.Um continente tão distante para minhas aspirações de juventude. Quase impossível..Mas eu estava lá.! A procura do fog londrino.
Museu de Cera Madame Tussaud


 Visita a lugares turísticos: Palácio de Buckingham, para ver a troca da guarda com hora marcada, é claro! Piccadilly Circus, Museu de Madam Tussaud, Hyde Park ( todo cercado e com uma belíssima área verde), uma passada no Harrod´s, o rio Tâmisa, o todo-poderoso Big Ben. Conhecer as cabines telefônicas vermelhas.. Enfim , a primeira  cidade européia de minha vida, fazendo pulsar um coração receptivo e emocionado.

Cabines telefônicas: píncipe William e Princesa Kate.