Paris: Mercado de Pulgas e Maria Antonieta.

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Paris, janeiro de 2012. Chegada à movimentada  estação do metrô Porte de Clicgnancourt, linha 4. A calefação, funcionando com toda a sua  potência, me protegia do calor e, de repente, subindo dois lances de escada, eis-me na superfície: frio de 5 graus , o sol iluminando o lado norte da Cidade Luz, no 18 arrondissement. O encontro feliz e caloroso com amigos que me levaram a conhecer um dos lugares mais interessantes e pitorescos. Ter amigos é importante demais, até em situações assim: amigos brasileiros que moram na França proporcionam estas experiências, numa troca recíproca de saudades.


   ...amigos brasileiros que moram na França, proporcionam
estas experiências, numa troca recíproca de saudades.



Estava me dirigindo a um lugar que vale a pena visitar. E, então,  não raro ouvia  turistas  perguntando e um parisiense não tão inacessível assim, orientando:  "Le marche? Aux puces de Saint-Ouen", indicando e sinalizando um endereço de visita importante, guardando as proporções e em outro segmento, como o Louvre e o Arco do Triunfo. Percebi que é um conterrâneo destes lugares, tão rico em histórias quanto os próprios.

Depois de andar tanto, esqueci o frio. Não me incomodava mais e finalmente: "Aux puces de Saint - Ouen"! Somente alguns minutos lá, para perceber que aquele lugar era o paraiso para turistas de derradeiros tostões no bolso, a fechar seu sonho de conhecer Paris. E então para mim também, pois depois de um mes, a viagem estava terminando. No dia seguinte voltaria ao Brasil e me pareceu que esta visita ao Mercado, era perfeito para um final de viagem; e na volta, já no avião,  quando a aeromoça sorridente passaria oferecendo produtos de perfumaria, com o carrinho da boutique da empresa  aérea, num impulso  pegaria alguns euros que sobraram e que as vezes possibilita comprar  souvenirs para meus amores que ficaram aqui me esperando. E sentiria  que o que gastei no Puces de Saint-Ouen, foi uma troca válida. Os presentes estariam na mala, no bagageiro do avião e no meu coração, estariam todas as boas lembranças da viagem, junto ao que havia trazido do Mercado de Pulgas de Saint-Ouen.

E o que seria Les puces de Paris  Saint-Ouen?

Puces de Saint-Ouen ( Mercado de Pulgas)

Este Mercado é mais uma feira de antiguidades, um local  vintage, onde pode-se olhar de tudo, garimpar à vontade, desde que se tenha fôlego. Afinal, são 11 km de ruelas, passarelas e explorar cada cantinho, era um convite irresistível, mas impossível. Precisaria de uns tres dias, então conformei-me ao que era sensato. Seguir junto aos amigos, que junto ao seu carinho, me ciceroneavam e onde paravam, gentilmente eu seguia seu roteiro. Afinal, eu estava deslumbrada e tudo para mim era um espetáculo!!! E como diz Fernando Pessoa, " Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena".

Soube que, antes de se popularizar em outras capitais da Europa, este tipo de comércio era característico dos subúrbios da França, mais precisamante de Saint-Oues. Depois, vários mercados começaram a abrir nesta região do norte de Paris, depois da primeira Guerra Mundial e o lugar virou moda!

Não se trata de simples objetos velhos(...) uma festa para os visitantes
 Roupas, mobiliários, luminárias, quadros, bibelôs, biscuits, bijouterias, jóias, livros, roupas eram vendidos. Hoje, forma um grande labirinto que recebe cerca de 9 milhões de visitas ao ano. Percebi que não se trata de simples objetos velhos. Podemos encontrar, ao lado de uma loja de discos ou livros, produtos da Gucci, Chanel, Hermès e outros em ótimo estado, por mais da metade do preço; uma festa para colecionadores, profissionais da moda e para o próprio visitante. Curioso é perceber que a sustentabilidade se faz presente; tão em voga quanto as novas tecnologias que visam agredir menos o ambiente, está a idéia de reduzir o lixo e evitar o acúmulo do consumismo: comprar uma roupa que pode ser usada denovo. Virou alternativa fashion e inteligente nas grandes cidades. E uma filosofia. (Ainda chegaremos lá)....

Maria Antonieta: a última Rainha da França
E, caminhando nestes corredores, depois de entrar, admirar obras de arte, folhear revistas e livros, admirar móveis e objetos do início de 1900, art deco dos anos vinte e  trinta , talheres, objetos da arte africanas e orientais, câmeras e também coisas estranhas, kitch, roupas antigas, eis que meu olhar estanca : numa prateleira entre outras peças antigas, vejo uma linda boneca de vestido azul e penteado de rainha dos castelos medievais franceses. Meu amigo falou: " É Maria Antonieta, leva!" Titubiei, controlei meu impulso, olhei novamente, segui meu caminho. Sentamos cansados para uma pausa e um café reconfortante. Pensei na distância que me separava daquela boneca e que, se não voltasse, nunca mais a veria. Então pedi aos meus amigos que me esperassem,pois iria buscar a Maria Antonieta, a Rainha da França. Por 10 euros estava em minha mão, uma representação da identidade histórica de Versailles, de Luis XVI, dos pobres de Paris. Quem havia feito aquele deslumbrante pequeno vestido, armado e gracioso a vestir a boneca? Nunca saberei, mas tenho a feliz certeza de que a tenho em meio aos meus guardados. E na memória, com exatidão, o momento em que veio parar em minhas mãos.
Estava encantada como uma menina mas mais ainda em ter comigo um pouco da história. Uma preciosidade.

..tenho a  feliz certeza de que a tenho em meus guardados.

Quem foi Maria Antonieta? A última Rainha da França do século XVIII.
Filha de imperadores autríacos que aos 14 anos casou ( sim.. se casava cedo naquela época) com o delfim francês, Luis, que em 1774 tornou-se o Rei da França. Exerceu grande influência política sobre seu marido e consequentemente, sobre toda a França.
Ao iniciar a Revolução Francesa, colocou o rei contra ela. Estudiosos dizem que ela procurava romper um conflito bélico entra a França e Áustria, esperando a derrota francesa. E, em 1792, foi detida e encarcerada pela revolução, junto com seu marido. Depois da execução de Luís XVI foi condenada à morte, morrendo na guilhotina em outubro de 1793.
Em linhas muito gerais, esta foi Maria Antonieta e o é ainda, para a história.

Era uma lançadora de moda inquieta, ( não por acaso encontrei a sua réplica no mercado charmoso de Paris). Chocou ao vestir calças, até então exclusivas dos homens.Deixou de lado os espartilhos e as barbatanas e adotou peças leves, para se aproximar dos camponeses. Quando queria exibir sua riqueza, surgia em público com vestidos suntuosos e penteados rocambulescos, de quase 1 metro de altura. Para a historiadora francesa, Caroline Weber, tudo isto fez dela uma precursora das celebridades atuais, em especial a cantora Madonna. Autora do livro "Rainha da Moda" ( Zahar), já lançado no Brasil, Caroline defende que a nobre foi a pioneira em um comportamento que hoje é comum entre as celebridades.

Maria Antonieta: a primeira figura real européia, a descobrir que não era necessário seguir as tradições para ganhar o respeito do povo. Percebeu que o modo de vestir, poderia ser o componente essencial  de sua fama. Além disso, fez com que o mundo fashion, ficasse acessível para pessoas de todas as classes. Naquela época e guardando as proporções, incrivelmente inusitado!

E assim terminha o meu passeio pelos tesouros do Mercado de Pulgas  de Saint-Ouen e de sempre lembrar: "Le Marche? Aux puces de Saint-Ouen"!!!




6 comentários:

Mari Travi disse...

Sonia querida! Adorei teu texto.Senti-me caminhando nos corredores deste mercado que, infelizmente, não conheci quando estive lá. Parada obrigatória na próxima viagem à Paris. Teu texto é uma aula de história também. Adorei ler sobre Maria Antonieta.Já li sobre ela mas tu trazes detalhes muito interessantes, com um olhar sobre a personalidade dela. Obrigada querida por mais este texto enriquecedor. Beijos

Margrethe Wallau disse...

Adorei seu texto, como sempre, muito bem escrito. Fui a Paris e imaginei vc comprando a boneca...rs.
Continue nos presenteando com sues textos e suas experiências deliciosas.
Bjs

virgínia além mar floresta vicamf / disse...

Dez Sonia querida como nos leva ao universo encantador de tuas impressões e paixões parisienses.
grata, abraços de leitora

virgínia vicamf NHamburgo RS BR

virgínia além mar floresta vicamf / disse...

Dez Sonia querida como nos leva ao universo encantador de tuas impressões e paixões parisienses.
grata, abraços de leitora

virgínia vicamf NHamburgo RS BR

renata lehmann disse...

Sonia, mais uma vez destes o prazer de um novo passeio pelas experiências que tivestes.Às tuas emoções, sempre presentes nos teus escritos, somastes o histórico do teu itinerário. Isso tronou a leitura mas rica. Sempre edificante e gostosa!
beijos

Anônimo disse...

E o que fazer quando se tem uma mão que troca o filho por comodidades financeiras? ?