Carnaval: Resgate da História

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 “A lua iluminada chorou tanto, que de seu pranto nasceu o rio e o mar”. Esta frase sensibiliza; além de sua beleza traduz o que a Psicologia e áreas afins, como a História, chama de manifestação de Identidade Grupal. Faz parte do samba enredo de uma das escolas de samba que desfilou no Rio: fala sobre as belezas naturais do Brasil.

Ver o carnaval neste viés de cultura, nos previlegia. Sabemos que faz parte de um dos maiores espetáculos da terra a aprender a interpetar assim o carnavalesco, nos faz entender as diversas práticas culturais pelas quais o homem, através da história, constrõe e transmite a difusão da cultura, de norte a sul.

Desvendar os segredos, os mitos através dos ícones (personagens e alegorias) que desfilam na passarela do samba, é o que podemos fazer; ver e “ler” o carnaval assim, é um aprendizado; entender a questão do homem, a antropologia, é viajar pela história da civilização e fazer a analogia de que o carnaval é um teatro, onde a convivência das escolas, num cenário de alegria, de bom humor, muitas vezes de ironia e de resgate do conto histórico, parece fazer parte de nosso show: um espetáculo grandioso sem ser luxuoso, tendo o asfalto como passarela, onde desfila a crítica social.

Não se trata aqui de questionar o papel da mídia e os caminhos que levam este evento a um “espetáculo para turistas”; nos apelos de sensualidade. Estamos dentro de um enquadre histórico, de um imaginário coletivo, como colocaria Jung, psicanalista dessidente de Freud.

Entender a essência do carnavalesco, perceber a seriedade com que a maioria dos integrantes desfilam, cantam o samba enredo, é perceber este espetáculo como a representação da realidade histórica, a sua identidade étnica, num rito representativo do clamor de um povo; a sua herança cultural.

Carnaval não é só diversão; é representação; é denuncia da identidade grupal, que, através de seus ícones, podem interpretar e ler como num texto a realidade histórica, seus meandros. Cada povo representa à sua maneira; em Veneza usam máscaras e no Brasil se desvelam através de suas fantasias a nossa história.

Mas, fica  em nós um vazio, vários “senões” ; a nostalgia das marchinhas de carnaval, dos carnavais de salão que agora são substituídos pelo axé, etc. e assim o carnaval vai perdendo sua essência. E aqui podemos nos lembrar: “ Pierrô está chorando pelo amor da Colombina, no meio da multidão”




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Texto publicado no Jornal NH do dia 25/02/2004.