A Olimpíada e a Iconografia: Grécia e Londres

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Os ícones gregos são referenciais em toda a Olimpíada.



Ao assistir o apagar da  pira Olímpica, única e espetacular, na recente Olimpíada de Londres, recordei de um artigo que escrevi   por ocasião dos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004: "Olímpiada: o deus Eros". Reli. E re-conheci que não é por acaso que os ícones gregos permanecem, ressurgem da antiguidade e são referenciais em toda a Olimpíada, à partir do séc 19 . É na Grécia Antiga  que encontramos a importância da iconografia, ou seja, reconhecer e interpretar os símbolos culturais. Eles conferem a identidade a um povo. Os principais são resgatados dos símbolos gregos e de um ideal olímpico de paz. Este símbolos, nos jogos olímpicos,  são representados através da pira olímpica, da bandeira com os 5 aros entrelaçados, os traçados, emblemas e desenhos nas três medalhas que tocam o peito dos atletas, com emoção e orgulho e outros ícones. A iconografia contemporânea, ou seja, os símbolos representados em Londres,por exemplo, além dos ícones gregos,  estabeleceu a sua identidade através da música pop, e em 2016 fica a missão para o Rio de Janeiro, o Brasil mostrar sua história .

No texto que reli por ocasião da Olimpíada de Atenas, escrevo o que foi visto na cerimônia de abertura : "(...) O homem alado que flutuava sobre  o estádio, num espetáculo de rara beleza e significados: representava o deus Eros, deus do amor. Parecia abençoar a todos, enviando ao mundo uma mensagem de fraternidade. Os filósofos gregos já falavam do amor, sonhavam com a imortalidade e questionavam a razão de nossa existência e finitude. Atenas torna-se  agora poesia contada em mitos; os deuses do Olimpo estão presentes como constitutivos da história; a mitologia grega tem em Atenas, uma cidade abençoada pelos deuses:Hera, Apolo e tantos outros. E Eros que surge como absoluto, sobre o espetáculo de abertura.

Os historiadores, com certeza identificaram a prática social nos rituais e nos ícones, assim como as mensagens que daí poderiam ser interpretadas, percebendo a distância cultural entre presente e passado, através da historiografia . Na Grécia nasceu a democracia, o teatro, a história, a filosofia e agora, neste espetáculo, na Atenas de 784 a.c, imagens são representadas através de ícones que nossa percepção permite interpretar.

E em Olímpia tudo começou;  o espetáculo representado pelo logotipo dos aros identificando  a Olimpíada, parece um apelo de união fraterna entre as nações, representado pelos cinco anéis  que unem os cinco continentes deste nosso planeta e enlaçados, sugerem união e paz. E, no final desta cerimônia, como resultado do poder do homem e da tecnologia que ele próprio criou, viu-se os avanços da ciência que parecem infinitos: a representação do DNA. Então refletimos: o homem começa a brincar de deus mas esperamos que o faça com sabedoria e ética."( Artigo publicado no jornal NH, Coluna Opinião, em 18 de agosto de 2004.)

O Big Ben marcando pontualmente
Agora, em 2012, este mesmo espírito olímpico mas com outra iconografia, aconteceu em Londres, a cidade teve a sede de uma Olimpíada na era moderna. E a acolheu num evento considerado como a maior edição histórica dos Jogos Olímpicos. Tanto na abertura quanto no encerramento, uma festa à altura. Permaneceram muitos  ícones gregos, a essência é a mesma mas surgiram ícones, símbolos contemporâneos porque reflete a Londres contemporânea, Pop em suas músicas, em seu vestir, em seu modo de ser. A cerimônia da abertura foi linda sobre o Tâmisa até a chegada no estádio. No encerramento,o Big Ben, marcou pontualmente em uníssono com o público : one.. two.. e  eis que surgem da platéia os atletas com suas medalhas. Merecidas homenagens aos voluntários, excelente!

Jonh Lennon não poderia faltar em terras britânicas. Lindo coral a cantar " Imagine" e embalar a imagem projetada, uma foto de mais um ícone e sua própria voz. Sua face montada num quebra-cabeça virtualmente traz Lehnon à pátria - mãe.

Rio Tâmisa 

E a música Freedom? Não poderia faltar, já que liberdade é a essência de toda a democracia. Uma parafernália eletrônica marca este encerramento e mostra à que veio. Encanta o mundo
Fiquei a pensar; a Inglaterra se basta! Sua moeda não é o Euro, sabiamente ou não, rejeitou a nova  moeda introduzida na Europa no início deste século. A Libra continua reinando discreta como a fleugma do britânico e do rei, rainhas e súditos  da monarquia. Nada parece dar errado, nada não pode ser pontual.

Palácio de Buckingham
Medalhas de ouro, prata, bronze são beijadas pelos atletas; bandeirinhas e bandeiras tremulam. Alegria: missão cumprida.A Grã-Bretanha delira em todos os segmentos: moda. Painéis gigantes, fotos gigantes de modelos famosas. Modelos de verdade! Naomi Campbel, Kate Moss. que coisa! Espetáculo!Spice Girls, Bee Gees e, finalmente, o Hino da Olimpíada: "  Survival"
Show de tecnologia! Linda e legítima a homenagem  à Grécia, com sua bandeira sendo hasteada. Levou os jogos olímpicos ao mundo.
Surge o prefeito do Rio de Janeiro: 2016 será aqui!Nosso hino nacional sendo tocado e eu me emociono. Entra o samba do Brasil, um de nossos ícones.
Heitor Villa Lobos interpretado por Marisa Monte, então ouço a Bacheana número 5, um tributo à cultura brasileira.
E o Brasil sendo anunciado como sede da próxima " casa da olimpíada".
Senti que iniciava, neste momento, no Brasil e vislumbro  Pelé emocionado.
Agradecimentos à generosidade do povo britânico, final de festa e apaga-se a pira simbólica...
Hyde Park- Londres
E o bastão foi passado ao Brasil. Agora a missão é nossa! Quem serão os ícones a serem apresentados nos Jogos Olímpicos no Brasil? Com certeza  deverão estar relacionados com nossa identidade cultural. O Cristo Redentor tão lindo? Os ícones carnavalescos? Eu me importo com estas escolhas e sei de nossa diversidade que certamente estarão representados. É  organizar, apresentar e fazer bonito!!


O bastão foi passado.A missão é nossa!
Rever Londres tão seguidamente na mídia, nestas duas semanas que passaram, trouxe-me recordações. A conheci nos anos 80 e  o outono lindo deixava tudo mágico. Chegada no aeroporto de Heathrow e o ônibus vermelho de dois andares, lindo ônibus de meus sonhos, no percurso aeroporto hotel: não poderia haver chegada mais pitoresca.Um continente tão distante para minhas aspirações de juventude. Quase impossível..Mas eu estava lá.! A procura do fog londrino.
Museu de Cera Madame Tussaud


 Visita a lugares turísticos: Palácio de Buckingham, para ver a troca da guarda com hora marcada, é claro! Piccadilly Circus, Museu de Madam Tussaud, Hyde Park ( todo cercado e com uma belíssima área verde), uma passada no Harrod´s, o rio Tâmisa, o todo-poderoso Big Ben. Conhecer as cabines telefônicas vermelhas.. Enfim , a primeira  cidade européia de minha vida, fazendo pulsar um coração receptivo e emocionado.

Cabines telefônicas: píncipe William e Princesa Kate.

3 comentários:

Ana Paola Loeblein disse...

Parabéns Sonia! Sempre com ótimos posts.
Abs,
Paola.

renata lehmann disse...

Sonia, bonito tema: ícones que são escolhidos por uma nação para representa-la. A maioria fica ligada nos esportes, quem ganha e quem perde, quando importante também é o que representa: essa união dos povos e conhecer um pais com toda sua cultura e conquistas que saíram dali para o mundo, que representam o lugar.
É sempre com muito prazer que leio tuas crônicas, onde mostras tuas emoções de uma maneira que nos contagia, pois estão na nossa memória, coisas parecidas. Um abraço e beijo dessa leitora!

Mari Travi disse...

Sonia querida!
Adorei o texto e a clareza e coerência em que tu te expressas.Adoro ler os teus textos e sempre termino com algum aprendizado. Espero muito que o Brasil posso mostrar os nossos ícones que são muitos. Temos um diversidade cultural imensa que, com certeza, serão evidenciados em 2016. Obrigada por nos presentear com tuas fotos lindas de Londres! Um grande abraço com carinho.