A Importância do turismo e lazer na Meia Idade-aspectos psicológicos

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Simone de Beauvoir, em seu livro " Na força da idade", contesta veementemente a colocação que afirma ter ouvido : "Para que viajar, ninguém sai nunca de si mesmo" e justifica dizendo que , quando ela viajava, não se tornava outra mas desaparecia. Interpreto que ela se referia ao fato de que os problemas seguem com a pessoa quando viaja, mas assumem outra conotação.

" Em Madrid, pela manhã, abri as janelas do meu quarto; vi, junto ao céu azul, torres soberbamente erguidas, passado, futuro, tudo se dissipou: havia apenas uma gloriosa presença: a minha. A daquelas fortificações era a mesma e desafiava o tempo.(...) um país permanecia virgem de qualquer olhar enquanto eu não o via  com meus próprios  olhos" . ( Simone de Beauvoir, Na força da Idade. São Paulo: Difusão européia do livro, 1961.)
Paris-Rive gauche do Sena - janeiro 2010


Sabemos que a Meia Idade, ou anos intermediários como alguns autores preferem denominar, é caracterizada como uma época de auto-avaliação ou crise da meia idade, ocorrendo ao redor dos 45 aos 60 anos.A  Síndrome do "Ninho Vazio" á característica desta fase, principalmente na vida das mulheres: os quartos da casa  agora vazios.Os filhos " bateram as asas", constituíram famílias ou viajaram para lugares distantes, recomeçando seu próprio ciclo; casaram-se , geraram filhos, conviveram e irão encaminhar-se  também para a etapa que  Lidz ( O ciclo vital, 1986), chama de L ´envoi : o partir, o envelhecimento, o término da vida; suas vidas estreitando-se; parentes e amigos morrem e os pensamentos e interesses voltam-se para o passado.

Estão repetindo o mesmo ciclo de seus pais? A transgeracionalidade expica a maneira de como as  pessoas
repetem os modelos, exemplos  de seus pais e de como irão encarar o futuro.

Este é o inevitável Ciclo Vital, que teoricamente todo o ser humano terá que ter capacidade de encontrar propósito e dignidade para trilhar e chegar à velhice, (próxima etapa do ciclo vital-Terceira Idade), refletindo configurações da personalidade estabelecida nos anos anteriores.

Add captionAcademie Nationale de Musique-Paris
A Síndrome do "ninho vazio" na Meia Idade, merece um enfoque especial. Poderá ocorrer depressão  da mãe  e muitas vezes no pai,depois que os filhos deixam o lar: interpretação e orientação  se fazem necessárias. Tanto os homens quanto as mulheres , com as funções maternas e paternas completadas, "lançam mão" muitas vezes inconscientemente, ao que Freud  chama de Sublimação: um mecanismo psíquico no qual as pessoas dirigem seus interesses e frutrações à atividades úteis e prazeirosas, tanto sociais como intelectuais, uma viagem, por exemplo. Nela, poderão  ampliar sua comunicação através de um novo círculo de amigos, com os mesmos interesses; poderão trocar impressões sobre suas novas experiências vivenciadas, tranferindo saudavelmente, então, o investimento emocional que dirigiam aos seu filhos para estas atividades, que certamente poderão lhes proporcionar uma meia idade satisfatória, plena, preenchendo o vazio existencial que surge nesta fase do ciclo vital.

A Meia Idade é caracterizada por uma consciência inquietante de que os anos de pico de vida estão passando. Agora, é olhar para onde suas vidas tem ido, porque são necessários novos padrões de vida; as pessoas são, agora, membros de uma geração mais velha e responsável. É como se tivessem passado agora,  para o desenlace de uma peça teatral, numa metáfora que lhes dão  insight sobre a maneira de como suas vidas estão sendo levadas. Então surgem os questionamentos: o que foi realizado?e o que os anos posteriores tem a oferecer? Tem-se a sensação muitas vezes amarga de que a vida escorrega pelos dedos, podendo muitas vezes, ocorrerem conflitos existenciais.

Mas , felizmente, a maioria das pessoas agora, está no mais alto de seu potencial. Passaram seu principal vigor físico mas usam suas cabeças efetivamente e aprenderam a conservar suas energias. Sabem o que funcionará e o que vai ser perda de tempo. Muitas poderão sentir que, com o desaparecimento da responsabilidade com os filhos,que agora por sua vez  são pais de seus próprios filhos, tem liberdade nova para enfocar suas próprias vidas e interesses.

As pessoas tem então,  alternativas de um viver saudável e feliz. Muitas ficarão felizes com seus netos.Ou,  através do turismo e outras formas importantes de lazer, percebem os benefícios que chegam com sua maturidade, desfrutando as oportunidades que se apresentam. Assim , fortalecerão sua auto estima e também seu aspecto cultural será acrescido de realizações intelectuais e de relacionamento humano.

" Nenhum aspecto parece caracterizar melhor a civilização do que sua estima e seu incentivo em relação às mais elevadas atividades mentais do homem-suas realizações intelectuais, científicas e artísticas-e o papel fundamental que atribui às idéias na vida moderna" (S.Freud, 1890, O mal-estar na civilização. S.P Imago,vol XXI,1961).

É importante salientar que o ser humano pode perceber que cada cidade, cada lugar, tem uma essência, uma alma e que a tarefa consiste em des-vendá-la. Certos lugares parecem despertar "amor à primeira vista", sendo os lugares introjetados na história de cada um. As viagens despertam o gosto pela liberdade, sendo que a bagagem cultural que se adquire, nos torna ainda mais únicos em função de nossa interpretação do que foi conhecido.

Somos seres gregários, ou seja, nascemos e crescemos vinculados a um grupo social, iniciando a trajetória em nossa família. Nosso instinto também  é social. Existe uma mente coletiva: seja quem  forem os indivíduos que compõem um grupo,semelhantes ou não que sejam seu modo de vida, suas ocupações , seu caráter ou sua inteligência, isso os coloca na posse de uma espécie de mente coletiva  que os faz sentir, pensar, agir de maneira diferente daquela pela qual cada indivíduo tomado isoladamente, agiria se estivesse sozinho. É através das trocas de impressões vivenciadas, que as pessoas muitas vezes percebem com mais clareza a beleza de um quadro, de uma paisagem, as apreciações do folclore, as crenças populares de um país visitado.

Enfim, o lazer surge cada vez mais como fonte de interação entre as pessoas, situação essa muito importante na Meia Idade. Diz respeito àquele tempo que dispomos para fazer qualquer coisa que nos agrada, até mesmo não fazer nada.

Isso seria a recompensa pelos anos anteriores de dedicação, trabalho e investimento emocional direcionados aos filhos e família. Agora, novos padrões de vida são reorientados, buscando alternativas de usufruir dos benefícios que chegam para as pessoas com a maturidade.



Texto escrito em 2001, como psicóloga colaboradora de um livro sobre Turismo .







1 comentários:

Mari Travi disse...

Sonia querida!

A "síndrome do ninho vazio"...Não pensei que fosse tão difícil. Nunca fui uma pessoa depressiva e sempre lutei para viver bem, apesar dos percalços que a vida me impôs. Então, estou me esforçando para não cair.Como tu colocastes estou me direcionando para coisas que me dão prazer e isso funciona muito bem. Adorei o teu texto porque me fez pensar e refletir sobre a minha vida e o que estou fazendo para passar esta fase da melhor maneira possível. Muito obrigada Sonia pelas tuas palavras tão esclarecedoras, generosas e otimistas. Beijos