O Caso do Sr. X - Síndrome de Burnout

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Quando pesquisamos sobre o stress no trabalho, encontramos preocupantes alterações de comportamento, em consequência do esgotamento na atividade laboral: o Burnout. A partir de 1970, vem sendo estudado intensivamente nos Estados Unidos, Europa e agora, no Brasil. O termo Burnout ( do idioma inglês), significa queimar-se, esgotar-se pelo trabalho em resposta ao stress crônico.

Para entendermos esta Síndrome ( pois trata-se de um conjunto de sintomas) , tomaremos como exemplo o caso ilustrativo e fictício do Sr.X:  um funcionário de 40 anos, com uma família feliz e estruturada. Trabalhava como Gerente de Vendas há 8 anos numa empresa, não faltava ao trabalho mas gradativamente, sentia-se péssimo. Sua eficiência caía dia a dia e a "chama" do idealismo, que o mantinha na "luta," se apagava lentamente; sentia sua dedicação resumida como anos de frustração  e falta de reconhecimento pelo sistema. Passou a demonstrar, então, cinismo  e frieza com os colegas de trabalho ( despersonalização, a principal característica do Burnout); sua instabilidade emocional e ceticismo aumentavam enquanto sua auto-estima diminuia. Mas não desistiu ao que percebia como injustiça por parte de empresa, em sua promoção e crescimento.Somente insistia em permanecer no cargo e continuar sua jornada laboral, esta agora sem significado. Somente cumpria as metas estabelecidas, despindo-se de qualquer vínculo emocional com as pessoas com as quais convivia no trabalho, despersonalizado.


Muitos srs. X, profissionais esgotados, encontramos em várias áreas; saúde, educação (docência), empresarial e outras, que proporcionam contato direto com pessoas.

E quais são as causas da Síndrome de Burnout?

Estão diretamente ligadas ligadas a baixos salários, longas jornadas de trabalho, demandas maiores as que podem efetivamente responder, tarefas  que não correspondem aos traços de sua personalidade, trazendo sofrimento e conseqüente prejuízo no atendimento aos clientes, aos relacionamentos interpessoais.Ou seja, deficiências ou ausência do olhar psicológico ou da gestão empresarial.

As pessoas que estão burningout, apresentam características comportamentais como a contrução de uma "couraça" impermeável às emoções e sentimentos; o convívio torna-se cada vez  mais difícil com os colegas, num sistema competitivo de divisão de trabalho e de pressões. As situações são inúmeras e para enumerá-las, necessitaríamos elencar diversas variáveis estressoras.  Manifestações psicossomáticas ( hipertensão, problemas relacionados à sexualidade-libido),elevação dos níveis de cortisol ( o hormônio do stress), poderão levar à diminuição das defesas do sistema imunológico, além de doenças nas coronárias, conforme pesquisas realizadas. O sofrimento se manifesta, pois jamais poderemos separar mente-corpo, o que já preconizavam os filósofos gregos e a ortodoxa e sempre verossímil  teoria freudiana. O esvaziamento existencial e a depressão, poderão levar o profissional a renunciar ao seu outrora ideal.

E qual a saída?

Sabemos das dificuldades, pois muitas vezes as causas são intrínsicas ao sistema de trabalho: conciliar família e trabalho é um desafio para gestores e profissionais do mundo empresarial, na medida em que os conflitos nessas áreas trazem consequências negativas para as empresas e os colaboradores;  a busca de equilibrio entre a vida pessoal e profissional é um desafio constante no ambiente de trabalho, assim como aprender a delegar e compartilhar tarefas, pedir ajuda quando necessário e ser criativo, tendo espaço para isso.

O que se observa na Psicologia do Trabalho, é que muitas vezes a qualidade do convívio, mais do que o tempo dedicado  às relações, deve ser considerada. A volta para a família, depois de um dia de trabalho, atualmente tem somente conotação de descanso e não de estreitamento das relações. O trabalho que deveria ser fonte de prazer e satisfação, poderá tornar-se origem de stress, dificultando o desenvolvimento de laços mais profundos. "Livrar-se" do trabalho é afastar-se de situações angustiantes e contrárias ao que deveria ser: de satisfação pessoal. Então sim,  aconteceria o verdadeiro sentido do trabalho: não somente ser  fonte patrimonial mas também de gosto e prazer pela atividade laboral.

Criação de vínculos e competência relacional
A prevenção surge, também, como  como uma das grandes e fundamentais aliadas no controle e gerenciamento do stress e Burnout. Através de mudanças no estilo e Qualidade de Vida além de programas internos nas empresas, fugir dos riscos e assim obter  gratificação com a alegria de viver e de trabalhar. Aumentando a auto-estima, a criação de vínculos e a competência relacional.

( Texto resumido de um capítulo de meu livro: "Estresse laboral e Síndrome de Burnout-Uma dualidade em estudo"-) 2003.

1 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns Sonia!Belíssimo texto.O equilíbrio entre mente e corpo, razão e emoção, deve ser constante. Beijos amiga querida. (Margaret Leão)