Havia nevado na noite anterior... eu olharia En passant a branca paisagem |
Paris - Genebra.
Janeiro, 2008.
Três horas de viagem no trem TGV – sabia que iria desvirginar meu
olhar diante de lugares nunca vistos. Havia nevado a noite anterior... várias estações de trem estariam ante meu olhar e eu olharia en passant a branca paisagem, mas com a memória aguçada para quem a neve era rara e precisaria evoca-la mais tarde. Iria deliciar-me com o recomendado Le Croque
Monsieur, o sanduiche quente, gostoso e inesquecível. Meus sentidos alertas, pois
não poderia privar-me de nada.
Embarque
feito. Discreta mas atenta, visualizei uma figura impávida, embevecida,
elegante, sentada à minha frente
enquanto o trem oscilava suavemente. Um indecifrável
francês alheio ao seu redor, lia um
livro. A paisagem encantadora, deveria
lhe ser rotineira e antiga. Não o interessava mais. Isto o deixava
especialmente único e nobre, vestido com
seu terno lindo! Aliás, todo o homem fica belo de terno.
Enquanto o
observava discretamente, minha imaginação revestia-se de asas. Seria um
professor? Da Sorbonne?! Voltava de sua
jornada em Paris, afinal era final de
semana? Ou um conferencista lendo um artigo? -Me parecia um intelectual de
primeiríssima estirpe - Lendo Luc Ferry e suas ideias humanistas? O
franco-argelino Albert Camus? Ou um Psicanalista imerso na leitura difícil e
sábia de Lacan?
Sempre
gostei de olhar pessoas e imaginar então suas histórias, biografias.
Mais adiante,
avisto um jovem displicentemente recostado no banco. . Mais um leitor. Pensei
que estivesse lendo Asterix e Obelix. Afinal
eu estava na França e ele esbanjava
linda juventude. Pela escolha, parecia
inteligente e sagaz..
Logo ali,
alguém lendo um jornal.” Le Monde”. O mundo em suas mãos e eu descobrindo aquele grão de areia na imensidão do planeta.
Incrível a
cultura dos europeus. Séculos os fizeram leitores contumazes. Leem muito. Desde
pequenos. Tem disciplina. Como sei? Porque lá convivi e ouvi as mais diversas
falas. Como a do eletricista da amiga –
irmã brasileira que me hospeda no Velho Mundo. O diálogo entre eles era sobre o
Socialismo, suas raízes filosóficas e sociológicas.. Falou sobre Marx e seus
postulados teóricos, entre uma troca de lâmpadas. Um show de cultura e eu
embevecida, lembrei de H. Hesse: “ O
homem culto é apenas mais culto. Nem sempre mais inteligente que o homem
simples”
E tudo faz sentido. Precisamos ler, porque lendo
, estudamos. O Brasil é um país jovem e
as Feiras do Livro não existem por acaso. São santuários da leitura . São a alma de uma cidade que
quer ser representada pelas letras de seus cidadãos, pelos escritores do
mundo, pelos contos que nunca se
extinguem. Pelo eterno livro.
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